Crescendo na Graça - Livre Arbítrio



Hoje nos adentramos em um dos temas que tem causado uma quantidade inestimável de posts nas redes sociais, especialmente nos grupos de debate e teologia do Facebook. Não são poucos os textos, memes, artigos, livros e debates que têm sido escritos e criados para defender uma posição ou outra. Ao final, o ser humano tem livre arbítrio ou não?

A resposta se encontra no âmbito e compreensão do artigo de fé de hoje:

ARTIGO X - DO LIVRE ARBÍTRIO
A condição do Homem depois da queda de Adão é tal que ele não pode converter-se e preparar-se a si mesmo, por sua própria força natural e boa obras, para a fé e invocação a Deus. Portanto, não temos o poder de fazer boas obras agradáveis e aceitáveis a Deus, sem que a graça de Deus por Cristo nos preceda, para que tenhamos boa vontade, e coopere conosco enquanto temos essa boa vontade.

A questão de livre arbítrio traz controvérsia, porque alguns consideram que a negação do livre arbítrio significa que somos simplesmente fantoches nas mãos de Deus, enquanto o outro lado afirma que se temos livre arbítrio, então Deus não é realmente soberano. Isto tem causado dois posições enfrentadas, e uma conversa difícil de resolver quando cada parte tenta mostrar a certeza da sua posição em contra da outra.

O significado real deste artigo de fé se encontra com o desejo de responder à questão, O que uma pessoa pode contribuir para conseguir sua salvação? A resposta é simples, NADA. Isto será explicado ainda mais no próximo artigo de fé quando vejamos toda a questão da justificação pela fé. Aqueles que se oponham a posição dos Reformadores, acusaram de que eles estavam dizendo que o ser humano não tinha nenhum livre arbítrio. Isto não ajudou com o surgimento nas gerações posteriores de posições teológicas radicais que negavam qualquer livre arbítrio por parte do homem e adoptando certo nível de determinismo para defender a soberania de Deus, como se Deus precisará que nos ajudássemos a Ele defender e manter a fé na soberania de Deus. Deus é Deus, e Ele é o Deus Todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra.

Este artigo de fé, claramente, é mais agostiniano que hiper-calvinista. Por isso, os reformadores e luteranos conseguem afirmar o mesmo, enquanto anglicanos e luteranos nem sempre afirmam a Confissão de Fé de Westminster.

Este artigo não nega o livre arbítrio e, ao mesmo tempo, nega a capacidade moral do ser humano de se converter e se preparar para chamar a Deus, ou ter a fé que leva a ser justificados diante de Deus. Isto é o que dizemos com claridade, ainda que muitos não querem ouvir. O ser humano é livre para fazer escolhas pessoais, contudo sua natureza está morta e corrompida pelo pecado, original e atual. Depois da queda, todos estamos mortos espiritualmente, ainda que nossa alma e corpo esteja vivo, nosso espírito está morto. Por esta razão, nossa alma poderá até procurar a Deus, porém a procura não será por amor ao Senhor, será uma busca de um Deus que dê aquilo desejado pela pessoa. Esse Deus será um deus feito a imagem e semelhança do homem ou da mulher que criou esse deus. Isto é idolatria, por isso ainda que a pessoa declare ter fé, não existe uma fé que busca o Deus vivo e verdadeiro, sem a ajuda do Espírito Santo que nos faça nascer de novo espiritualmente.

Evidentemente, existe muitos motivos pelos quais as pessoas são boas. A própria sociedade que vivemos nos ensinará comportamentos e padrões de conduta que determinará aquilo que é uma pessoa boa e uma pessoa malvada. Infelizmente, tais padrões diferem de cultura a cultura e de nação a nação. Por este motivo, muitas pessoas que mudam para outra cultura ou nação, acabam enfrentando choque cultural. Eles enfrentam uma nova situação onde padrões de conduta são diferente, e alguns dos valores positivos anteriores, talvez, nem sejam tais na nova cultura. Isto pode ser coisas tão simples como as brincadeiras. Uma brincadeira que é considerada engraçada em uma cultura, pode não ser apropriada em outra.

As pessoas são sim boas no seu contexto social e cultural, porém este artigo de fé está considerando a capacidade do homem de procurar a Deus pelas suas próprias forças e discernimento, de acordo a mente e desejo do Senhor. Aí é onde o homem não tem livre arbítrio. O ser humano somente será capaz de agradar a Deus, se o Espírito Santo planta fé no coração dele através da Sua obra e a pregação da Palavra de Deus. Isto significa que nos não conseguimos chegar a ser cristãos pelo próprio esforço. Depois da queda, a capacidade de escolher crer em Deus, foi destruída e, por esta razão, somos incapazes de acreditar no Senhor. Não há obras agradáveis a Deus separadas das boas nascidas do fruto de uma fé viva em Cristo. O Espírito Santo realiza tal maravilhosa obra através da Palavra e Sacramento (Santo Batismo e Santa Comunhão).

A noção de que uma pessoa pode escolher crer em Deus e fazer aquilo que Ele ordena na Sua santa lei porque o ser humano nasce bom, é rejeitada. Como temos visto ontem, esta posição foi rejeitada pela Santa Igreja Católica ao redor de 1,500 anos atrás. Se ontem comentava como esta ideia é presente, alguns comentários recebidos nas últimas horas, tem confirmado isto. Inclusive, persiste esta ideia entre muitos cristãos.

Eu não neguei que as pessoas possam fazer coisas que, superficialmente, pareçam agradáveis a Deus. O problema reside os motivos no coração do homem. As pessoas podem até cumprir alguns dos mandamentos da lei de Deus. Porém serão incapazes de cumprir plenamente e perfeitamente os mandamentos de Deus. No entanto, se vangloriaram de que têm cumprido alguns mandamentos de Deus e, rapidamente, apontaram seu dedo para aqueles que não tem feito. É verdade, a maioria pessoas nunca mataram ninguém, ou roubaram dinheiro diretamente dos outros. Porém será que não tem matado de pensamento e palavras, e têm roubado não dando o que era para ser pagou a receita federal ou um empregado, por exemplo.

As obras que agradam a Deus são aquelas que procedem da fé. Separados de Cristo, não há fé verdadeira, portanto Deus não se agrada das obras feitas pelo homem pelo seu próprio prazer, glória e honra.

O homem contemporâneo tem grande dificuldade de aceitar a ideia de que ele nunca será o suficiente bom para ir até Deus, sem a ajuda e a chamada de Deus pelo Espírito Santo. Isto é devido a várias questões, porém existe um ponto que sempre me chamou a atenção. Temos sido ensinando desde criança que o ser humano é o centro da criação, não Deus. Deus nos ensina que Ele é o Criador e Sustentador do Universo, somente Ele merece toda a honra, glória e louvor, agora e para sempre. A graça de Deus nos alcança em Cristo pelo Espírito Santo para que uma verdadeira transformação espiritual aconteça em todos nos.

Em Romanos 7, se nos apresenta uma situação bem conhecida pelo homem de hoje. Não são poucas vezes que acabamos fazendo aquilo que somos conscientes não é apropriado. Por outro lado, nem sempre fazemos aquilo que deveríamos fazer. O Livro de Oração Comum tem uma oração que expressa este paradoxo da seguinte forma,

"Deus todo-poderoso, nosso Pai celestial, confessamos, arrependidos, ter pecado contra Ti em pensamentos, palavras e obras, tanto no mal que fizemos como no bem que deixámos de fazer por negligência, fraqueza e intenção. Por amor de teu Filho, Jesus Cristo, que morreu por nós, perdoa-nos todo o passado e concede que Te sirvamos com vidas renovadas, para glória do teu Nome. Amém."

Este paradoxo é exatamente o fato de que o homem não é totalmente, nem plenamente, livre como ele tem feito acreditado ser. Existem escolhas que, ainda desejando fazer, não conseguir realizar, sem a obra do Espírito Santo, ainda quando é consciente de ser a decisão moral correta.

Estamos tão envolvidos em satisfazer os próprios desejos da carne, que nem percebemos o estado espiritual em que nos encontramos. Isto não deveria nos surpreender quando percebemos o nível de divorcio, gravidez de jovens não casadas, ou os casos de acidentes de trânsito por causa de um motorista bêbado. Estes são só três casos de muitas outras situações que nos reparamos diariamente. Culturalmente, encontramos frases como "tirar vantagem", "para o inglês ver" e "jeitinho brasileiro" que nos lembra a aceitação de padrões inapropriados, porém aceitos quando a pessoa se beneficia em contra dos outros. Por outro lado, reclamamos quando tal nos afeita de forma negativa.

O artigo de fé de hoje nós ensina uma grande lição, ainda quando nem sempre nos agrada ouvir certas verdades que nos ajudaram a ser a pessoa a qual Deus nos criou a ser em Cristo. Sejamos agradecidos pela graça e misericórdia de Deus conosco, e estejamos sempre prontos para louvar e dar ação de graças a Deus que nos chamou e fez possível ser parte da Santa Igreja de Cristo pela obra do Espírito Santo.


TEXTOS PARA MEDITAR

João 6.44; Romanos 7; Romanos 8.8; 1 Coríntios 2.14; Efésios 4.17-32.



PERGUNTAS PARA REFLETIR

- O que é livre arbítrio?

- Em qual sentido podemos afirmar que temos livre arbítrio?

- Qual é o objetivo do artigo de fé de hoje?



LIVROS PARA SEGUIR CRESCENDO NA GRAÇA

AGOSTINHO, Livre Arbítrio, Paula Editora, SP.

LUTERO, Martin, Nascido Escravo, Editora Fiel, SP.

SPROUL, R.C, Nós Temos Livre Arbítrio?, Voltemos ao Evangelho.


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