Santíssima Trindade

Há um único Deus, vivo e verdadeiro, eterno, sem corpo, indivisível não sujeito à paixões, de infinito poder, sabedoria e bondade; Criador e Sustentador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E na unidade desta Divindade há três Pessoas, da mesma substância, poder e eternidade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. - Artigo 1 — Da Fé na Santíssima Trindade, Os 39 Artigos da Igreja da Inglaterra.


Para ser Protestante, precisamos ser católicos. Este é o ponto central do Artigo 1, e o fundamento seguro sobre o qual todos os Artigos estão construídos.

Espera um momento, talvez você pense, “a Reforma não tratava sobre ir contra o Catolicismo, rejeitar os seus erros?”

Aí está o segredo da questão – os Reformadores Protestantes eram somente contra a Igreja Católica romana, porque eles perceberam que tinha deixado de ser verdadeiramente católica. A palavra “católico” significa “universal,” portanto ser “católico” significa acreditar o que a Igreja sempre tem acreditado. Isto é o que afirmamos no Credo Apostólico quando dizemos que acreditamos na “santa igreja católica.”

No século 16, a Igreja de Roma tinha se desviado tanto das verdades reveladas na Escritura, que não era possível reconhece-la mais como “católica.” Eram os Protestantes os que eram os verdadeiros católicos. Eles não estavam se separando da igreja, eles estavam voltando a ela.

E, assim, quando os Reformadores Anglicanos escreveram os Artigos, eles mostraram esta convicção profundamente clara. Ele estavam voltado as essências, de volta a fé verdadeira, a fé incorrupta, a fé proclamada na Palavra de Deus, a fé articulada pelos grandes campeões da ortodoxia da igreja.

Isto é o porque dos 39 Artigos não começam com temas polêmicos, como o papel do Papa, mas indo ao tema mais central de todas as crenças cristãs: que há um só Deus, que é Pai, Filho, e Espírito Santo.

É fácil para a doutrina da Trindade parecer arcaica ou, inclusive, irrelevante para nos. Não é o tema que seja ideal para manter teólogos acadêmicos no emprego, contudo tem preciosidades para oferecer aos crentes no banco?

Com certeza, é verdade que o Artigo 1 é rigoroso e rico teologicamente. Contém o ar de século de reflexão estudiosa sobre o testemunho bíblico da natureza de Deus. Anglicanos podem ter confiança aqui, o que acreditamos não foi colocado rapidamente na parte de atrás de uma postal de visita, mas foi passada cuidadosamente através de centenas de anos.

De fato, boa teologia não é inimigo de relevância pastoral, mas sua precondição necessária. Artigo 1 é, deste modo, supremamente pratica.

Observe o Deus que nos convida a considerar.

Aqui está um Deus que em nada se parece a mim. Eu sou mortal, Ele é eterno; eu sou físico, ele é “sem corpo”; estou totalmente a mercê das minhas emoções; Ele é sem paixões. E a lista continua: frequentemente não tenho poder, Ele tem “infinito poder”; sou estupido com frequência, Ele é perfeitamente sábio; eu sou pecado, Ele é Bondoso.

Este distanciamento implacável do caráter e natureza de Deus da nossa é, talvez paradoxalmente, profundamente consolador. Não estou colocando minha fé em outra criatura, ou um “Eu” maior no céu, uma projeção simples dos meus próprios fracassos e manias. O Deus revelado na Bíblia, afirma no Artigo 1, é o único Criador (“o criador e sustentador de todas as coisas”), e isto significa que está fora e sobre todas as coisas.

O Deus que governa o cosmos, que conta cada fio sobre minha cabeça, é perfeitamente bom e sábio, Ele sabe o que está fazendo com minha vida. O Deus que mantém o universo em ser, e que me dá cada suspiro de ar, está presente plenamente em cada momento da minha vida, inclusive quando eu me sento sozinho e abandonado. O Deus que é eterno, que é a própria Vida, só Ele pode me oferecer a verdadeira esperança na face da minha própria morte, e no meio da sombra do túmulo.

Mas há ainda muito mais a ser dito, porque este Deus é “três Pessoas, de uma sustância, poder e eternidade”. Deus não é um solitário mona, dependente na sua criação para permiti-lo relacionar e amar. Deus é relacionamento, Deus é amor. Ele é a eterna, amorosa, alegre comunhão do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Em outras palavras, Deus não precisa de mim para ser Ele mesmo, antes de que nada existirá, Ele amou.

Isto também é maravilhoso, noticias liberadoras para nos escutar. Porque isto significa que Deus não me criou como parte de um acordo Ele fez, ou relacionado a mim sobre a base de quid pro quo. Significa que a salvação Ele oferece não depende de mim cumprir certos requisitos, mas pode ser recebido por mim livre como um puro presente puro, sem condições. É uma salvação dada somente pela graça, através somente da fé.

E esta é uma verdade que os Reformadores Anglicanos especialmente queriam recuperar. Isto é o motivo pelo qual foram de volta as essências no Artigo 1, de volta a Trindade, de volta a o próprio Deus. Porque eles sabiam que para ser Protestante, necessitávamos ser católicos.

Para mais informações sobre a ideia que Deus é “sem paixões”, veja este artigo da edição recente de Churchman, ou este artigo breve sobre Formulary Friday.

Rev. Dr. Mark Smith é o Capelão de Christ’s College, Cambridge, e o novo editor revisor de Churchman.

Artigo publicado no site de Church Society, um ministério anglicano evangélico da Inglaterra.

Tradução: Bispo Josep M. Rossello Ferrer


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