Sobre o Livro de Oração Comum

oração comum

A maioria dos cristãos tem total desconhecimento sobre a liturgia e culto da Igreja Anglicana. Entre os reformados, existe um certo antagonismo histórico. Os mesmos tem sido exagerados para promover uma narrativa particular dos fatos acontecidos. Dr Truman nos ajuda a conhecer melhor a história. 


A semana passada foi uma surpresa encontrar-me com um artigo escrito pelo teólogo Carl Truman. Ele é professor Paul Woolley de História da Igreja no Westminster Theological Seminary. Tenho lido consistentemente seus artigos, e sempre os achei de grande interesse, assim que foi uma agradável surpresa, ler sua posição e reflexão sobre o Livro de Oração Comum, 1662.

O contexto do artigo reflete do fato de que Carl Truman visitou a King’s Chapel, em Cambridge, na Inglaterra. Ele participou de um culto nesta capela usando o LOC, 1662. Durante o culto, ele e seu filho perceberam que estavam sentados ao lado de uma jovem que levava um Hijab. Uma vez terminado o culto, Carl e seu filho conversaram sobre o que esta jovem muçulmana viu e escutou no culto e, o que não viu e escutou nele.

Aqui, lemos suas palavras:
“O que exatamente ela testemunhou, me perguntei? Bem, em um sentido geral, ela escutou a língua inglesa no seu sentido mais belo e desenvolvido para um propósito de exaltação: louvar a Deus Todo-Poderoso. Ela também tem visto um culto com uma lógica bíblica clara nele, indo da confissão de pecados para o perdão, seguindo para o louvor e indo para a oração. Ela também terá escutado esta lógica explicada a ela pelo ministro presidente, como ele leu as explicações prescritas que estão construídas na própria liturgia. A tragédia humana e a o caminho da salvação estão tanto explicados claramente e dramatizados pelo movimento dinâmico da liturgia. E ela terá testemunhado tudo isto em uma atmosfera de silêncio reverente. 
“Em termos de detalhes específicos, ela também terá ouvido dos capítulos completos de leituras da Bíblia: um do Antigo Testamento e um do Novo Testamento. Não exatamente todo o conselho de Deus, mas uma porção muito justa. Ela terá sido guiada na confissão corporal dos pecados. Ela terá escutado o ministro pronunciar o perdão nas palavras formadas pela Escritura. Ela terá sido liderada na oração corporal de acordo com a oração do próprio Senhor. Ela terá dois salmos completos cantados pelo coro. Ela terá a oportunidade para cantar alguns hinos a partir da riqueza tradicional do hinário e injetada com uma dose de escrituras. Ela terá sido convidada a recitar o Credo Apostólico (e deste modo está muito próxima de ser exposta a todo o conselho de Deus). Terá escutado as coletas enraizadas nas preocupações intercessoras das Escrituras exercidas sobre o mundo real. E, como disse anteriormente, tudo isto na elevada, bela prosa inglesa de Thomas Cranmer.”
Está é sem dúvida uma boa explicação do que acontece em uma Oração de Manhã ou Oração de Tarde, a partir do uso do Livro de Oração Comum, 1662. Neste momento, estou escrevendo um livro onde tento mostrar, como o Livro de Oração Comum, 1662, está impregnado do evangelho da graça, como nenhuma outra liturgia ou culto cristão. Por isso fiquei gratamente maravilhado ao ler a seguinte parte do artigo de Carl Truman:
“Agora, eu confesso sendo um pouco de um antigo Puritano quando se trata de liturgia. Não leva ao formalismo e sufoca a religião do coração? Certamente, eu houvesse pensado isso faz quinze ou vinte anos atrás. Contudo quando reflito no culto e o que a mulher no hijab tem testemunhado, não posso fazer outra coisa que perguntar-me se ela poderia ter experimentado alguma coisa melhor, se ela houvesse ido a uma igreja na tradição evangélica protestante... 
“Ela escutou mais da Bíblia sendo lida, dita, cantada e orada que em nenhuma igreja evangélica protestante do qual eu sou consciente; em outras palavras, que qualquer outra igreja que diz tomar a palavra de Deus seriamente e coloca a mesma no centro da sua vida... A liturgia de Cranmer fez possível que esta mulher fosse exposta ao Cristianismo bíblico em uma forma reverente, escritural, e realmente bela. Eu fui totalmente convicto como ministro protestante que o protestantismo evangélico deve melhorar muito sobre este ponto: todo meu sarcasmo instintivo sobre o Anglicanismo e formalismo, terminaram de mostrar-me de uma maneira poderosa como estou longe de tomar seriamente a palavra de Deus no culto”.

Evidentemente, nem tudo foi perfeito na visita de Carl Truman na King’s Chapel, como ele mesmo diz, talvez foi bom que nessa capela anglicana liberal não tivesse um sermão nesse dia. Contudo, observamos o potencial da herança que temos recebido, os anglicanos reformados, e, talvez, tenhamos nas nossas mãos a mais perfeita de todas as litúrgicas reformadas, será que isto é possível?

Carl Trumam foi convicto pelo Espírito. Ele, como muitos outros presbiterianos e evangélicos, olham os anglicanos com suspeita e falam de nós com ironia, contudo temos no nosso formulário e jeito de ser, a capacidade de ser a Igreja do Futuro, e não somente a igreja do passado. Este grande desafio nos inspira a olhar o futuro e ser esperançosos do que Deus quer fazer através de nós. Podemos desanimar com as grandes dificuldades, mas os anglicanos reformados do século 21, somos como os missionários presbiterianos do século 19, que chegaram sem nada, para trazer o verdadeiro evangelho de Cristo ao Brasil.

As palavras de Carl Trumam me inspiram a seguir esperando contra toda esperança, acreditando sem ver mais além de hoje, e amar aqueles que ainda não conhecem Cristo. Assim, levantou minha voz e clamou, “Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim....”

A Deus seja dada toda a glória.

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