Além dos pastores, o propósito eterno da liderança


Se ontem escrevi sobre o fato de que a Igreja de Cristo é diversa, e coexistem diversas culturas nela, hoje desejo refletir sobre a importância de reconhecer as diversas ordens da igreja e, também, os diversos dons ministeriais na Igreja de Cristo. Existe muita confusão nesta questão, e já tratei levemente em outros artigos sobre esta questão.

Um tema, como o que desejo tratar hoje, requer que comecemos com um ponto básico da fé Cristã. Todos nós estamos chamados a servir e amar a Deus, e seguir e obedecer a Jesus Cristo, pelo poder do Espírito Santo. Não existe isso de que só os “pastores” estão a tempo completo trabalhando pelo Reino, todos somos chamados a ser parte da missão de Deus. Este é o primeiro conceito que devemos mudar, se desejamos entender a visão bíblica da Igreja de Cristo. Todos somos sacerdotes e reis em Cristo (1 Pedro 2.9) e, como tal, uma das funções mais importantes é ir ao culto divino para adorar e louvar o Seu Santo Nome. Como sacerdotes, intercedemos a Deus através de Cristo para que as nações vejam o pleno conhecimento da Trindade.  
Ser sacerdote também é ser um servo. E um servo é aquele que serve, e não que espera ser servido. Lembremos sempre o fato de que a igreja está chamada a servir, como disse uma vez Charles Spurgeon, “o lema principal do Cristão deveria ser ‘EU SERVO’.”
Uma vez entendidas estas noções básicas, se faz necessário explicar as diferentes ordens na Igreja de Cristo. No Livro de Oração Comum, lemos, “É evidente a todos os que tem lido com atenção as Sagradas Escrituras, e os autores antigos, que desde o tempos dos Apóstolos existem na Igreja de Cristo estas ordens de Ministros: Bispos, Presbíteros e Diáconos.”
Se você me pergunta o motivo pelo qual existem três ordens; não tenho uma resposta definitiva a tal questão, exceto que Deus na sua sabedoria eterna decretou que assim fosse para que o mandato apostólico (Mateus 28.19-20) pudesse ser levado adiante. Agora, seria um erro considerar que somente aqueles cristãos nestas ordens são os chamados a servir a Deus. Todos temos uma parte importante e fundamental no corpo de Cristo. Nenhuma parte é mais importante que outra no corpo de Cristo (1 Coríntios 12.12-27), simplesmente tem funções diferentes (1 Coríntios 12.28-31).
Este capítulo de coríntios nos mostra a importância de que todo o corpo de Cristo desenvolva sua parte e participe ativamente no corpo para a glória de Deus. Todos temos recebido dons espirituais e ministeriais que tem sido dados conforme a perfeita vontade do Espírito Santo para a edificação da Igreja de Cristo (1 Coríntios 12.1-11).
Cada um de nós tem diferentes dons, para que todos possamos participar na responsabilidade e alegria de servir a Cristo, em vez de deixar tal função e responsabilidade a uns poucos “profissionais.” Isto não é uma negação da importância essencial das ordens da Igreja de Cristo, como temos mencionado. Simplesmente, nos lembra que todos nós temos sido chamados a servir a Deus, em diferentes posições, alguns como empresários, outros como magistrados, outros como empregados, outros como pais e mães, outros como professores, e outros como estudantes, e assim sucessivamente até considerar que ser um discípulo de Cristo é seguir o exemplo e os ensinos dele onde quer que estejamos, vivamos e façamos.
Os próprios apóstolos precisaram de ajuda quando a igreja começou a crescer, e surgiram os primeiros problemas. Os apóstolos perceberam que isto precisava ser resolvido. “Em razão disso, os Doze convocaram a multidão dos discípulos e disseram: Não faz sentido que deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço. Mas nós nos devotaremos à oração e ao ministério da palavra” (Atos 6.2-4). Os apóstolos reconhecem o fato de que não podiam ministrar todas as necessidades de todas as pessoas todo o tempo. Por isso, qual foi a solução que encontraram? Eles delegaram aos diáconos responsabilidade e autoridade para servir o povo de Deus, assim eles poderiam seguir orando e ministrando a Palavra de Deus.
Esta regra de ouro seguirá adiante quando os apóstolos começam a plantar igrejas nas diversas cidades do Império Romano e além das fronteiras deste império. Em cada cidade, criaram conselhos de presbíteros que cuidavam das diversas congregações que formavam a Igreja em uma região, ou cidade, sendo que cada congregação estava cuidada por um ou vários presbíteros que supervisionavam a igreja na cidade, pregavam a palavra de Deus e celebravam os sacramentos, seguindo o exemplo dos Apóstolos que supervisionavam uma região maior e tinham uma jurisdição que compreendia todas as igrejas locais (as diversas congregações em uma cidade ou região) sobre o seu cuidado apostólico, pastoral e espiritual.
Observamos assim como precisamos uns do outros. Ser cristão não é uma caminhada solitária e individualista, mas é uma jornada em comunidade e com os outros cristãos.
Esta foi também uma das primeiras lições sobre liderança que Moisés aprendeu, enquanto guiava o povo de Deus através do deserto. Enfrentava diariamente a necessidade de resolver conflitos, disputas, e aconselhar e orientar milhões de pessoas. Nessa situação, o seu sogro viu o que estava acontecendo, e foi até ele, e diz, “Moisés, você vai acabar acabando contigo, e vai acabar a coisa mau. Você não pode fazer isto só, precisa de ajuda.” Ele escutou o conselho, e nomeou pessoas de caráter para ajudá-lo a cuidar do povo de Deus. Se deseja ler a história completa, poderá ler em Êxodo 18.
Todos precisamos lembrar este fato, porque temos dificuldades para buscar ajuda. Isto pode ser por motivos bem diferentes. Alguns podem ser muito orgulhosos para pedir auxílio. Outros acreditam que não precisam ajuda, porque nem é tanto trabalho assim. Outros podem ter dificuldades para confiar em outras pessoas. Ou, inclusive, realmente nem tem pessoas que possam ajudar nas tarefas a ser desenvolvidas. Infelizmente, qualquer que seja a causa, lembremos que não somos Deus, e não somos capazes de fazer tudo sozinhos. Portanto, precisamos buscar pessoas que nos ajudem a enfrentar os desafios na nossa frente, e levar a carga que o Senhor nos tem confiado. Precisamos de outras pessoas, e precisamos buscar a Deus para que nos ajude a encontrar aqueles filhos seus idôneos para desenvolver cada tarefa e ministério na Igreja de Cristo. Se discernimos a direção de Deus, encontraremos as pessoas que Deus tem colocado perto de nós para ajudar a cumprir aquilo o qual nos tem chamado a fazer em prol do Reino de Deus e avançar o mandato apostólico.
Uma nota de advertência se faz necessária. Nem todas as necessidades são as mesmas. Os apóstolos sabiam que era importante ajudar a viúvas e aqueles que tinham fome. E, também, sabiam que não era bom para a Igreja de Cristo que isto fosse levado adiante, enquanto se negligenciava a pregação da palavra de Deus e a oração.
Por isso, os apóstolos delegaram parte da autoridade e responsabilidade aos diáconos. A Igreja de Cristo escolheu sete homens cheios do Espírito entre os membros da igreja, e capazes de ajudar a resolver este problema em ordem para ajudar as necessidades das viúvas da igreja. Uma vez tais homens foram eleitos, os apóstolos oraram e impuseram as mãos para fazer destes homens verdadeiros diáconos na Igreja de Cristo em Jerusalém. “E a palavra de Deus era divulgada, de modo que se multiplicava grandemente o número dos discípulos em Jerusalém; inclusive, muitos sacerdotes obedeciam a fé” (Atos 6.7).
Seria um erro pensar que a função dos diáconos era somente ajudar a resolver o conflito surgido a partir da situação que enfrentavam as viúvas. De fato, se seguimos lendo o livro de Atos, veremos como Filipe e Estevão tinham o dom de evangelista, pregando o evangelho e ajudando a crescer a Igreja de Cristo em Jerusalém. 
Por esta razão, acredito na importância de enfatizar a diferença entre as ordens sagradas e os dons ministeriais. Tem existido muita confusão no século passado nesta questão e, hoje, as denominações tem oficializado tal erro ao chamar o presbítero de pastor, quando pastor é um dom ministerial e não uma ordem ministerial.
Possivelmente, o fato de eu escrever este erro, não mude muita coisa, porque os cristãos tem trocado a Igreja de Cristo pelo Cristianismo, e abraçado este “ismo,” como se fosse o próprio evangelho de Cristo. Assim, o “pastor” se converte em um figura quase impossível de ser questionada, e a palavra dele é quase lei na igreja que ele administra. Infelizmente, isto está longe do que temos visto até aqui.
Uma coisa são as ordens de ministros (leigos, diáconos, presbíteros e bispos), outra coisa são os dons ministeriais (apóstolos, profetas, evangelistas, mestres e pastores), e outra coisa são os títulos (reverendo, ministro local, pastor ou reverendíssimo) e as posições (presidente, reitor, deão, bispo diocesano, entre outros). Sem dúvida, os títulos e posições são invenções humanas para esclarecer e ajudar a discernir as funções dos cristãos no serviço de Deus. O problema surge quando nós encontramos um contexto sociocultural, como o brasileiro, onde as pessoas se apegam aos títulos e funções, como se deles dependesse sua salvação. Estes não tem nenhum valor, e se precisa impor os mesmos para que as pessoas reconheçam tais naquele que deseja ser o líder; então, tenha a certeza de que ele não tem a autoridade e responsabilidade para ocupar tal lugar.
Todos estamos chamados a servir a Deus, e ocupar nosso lugar. Às vezes, pensamos que certos lugares são melhores que outros na igreja. Isto não é como Deus define as coisas, mas como a sociedade define os trabalhos a partir do valor financeiro ou popularidade da pessoa que ocupa tal posição. Esta forma de pensar tem entrado na Igreja de Cristo. Por isso, hoje vemos líderes e ministros de Cristo que parecem mais pop-star que servos de Cristo, como vemos nos apóstolos.
Se entendemos como Deus deseja que sua igreja funcione, então muitos problemas desapareceriam da noite para o dia. Não perguntes onde pode servir, mas como pode servir a Cristo e os seus irmãos neste momento. Isto pode ser limpando um banheiro, levando um almoço a uma pessoa enferma, fazendo as compras do supermercado para um idoso, ou, simplesmente, sendo um esposo que honra e ama sua esposa. Se todos os membros da igreja cumprem sua parte, então o evangelho continuará sendo central na vida da igreja, e a pregação seguirá diante, enquanto outras necessidades são resolvidas ao mesmo tempo.
Todos somos parte do corpo de Cristo, todos temos áreas em que podemos servir conforme os dons que temos recebido e o chamado que Deus nos tem dado, sendo o mesmo reconhecido pela igreja. E, não se esqueça, todos temos sido chamado por um só propósito, proclamar e promover o evangelho de Jesus Cristo.

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