Alcançando a unidade anglicana


Esta última semana, tenho ouvido muito sobre a unidade dos Anglicanos. Também, tenho observado como alguns “anglicanos” tem tomado decisões das quais fiquei mais que surpreso.

Suponho que é cada vez mais obvio para mim que o Anglicanismo, como um todo, já não está integrado e em harmonia. Não existe uma unidade entre os Anglicanos, já seja dentro da Comunhão Anglicana ou fora da mesma.

Portanto, não se pode seguir afirmando a ideia de que o Anglicanismo só existe naquelas igrejas em comunhão com Canterbury. Ainda que, a historia nos mostra que isto já era verdade desde a própria criação da Comunhão Anglicana, porque rapidamente encontramos jurisdições anglicanas, como a Igreja de Inglaterra na África do Sul (CESA), a Igreja Livre de Inglaterra, a Igreja Episcopal Reformada ou a Igreja de Inglaterra no Equador, que não formavam parte da Comunhão Anglicana.

As dificuldades crescem sobre diversos aspetos importantes do próprio Anglicanismo, como existe hoje.

O mais importante e principal, é a existência das igrejas episcopais (Igreja Episcopal nos USA e a IEAB no Brasil, entre outras) que tem aceitado a teologia liberal e o relativismo como centro da sua existência. Hoje, encontramos varias províncias anglicanas que tem promovido e aprovado legislações a favor de “sacerdotes homossexuais” e, inclusive, bispos homossexuais, aceitando o estilo de vida homossexual como valido dentro destas igrejas.

Se isto é inaceitável, não deve de ser considerado mais repreensível que os chamados anglicanos “ortodoxos” que terminam promovendo doutrinas e práticas anglo-católicas nas suas paróquias e dioceses. Isto está tão longe das práticas norteadas pelo formulário Anglicano, como os liberais estão do evangelho de Cristo.

O desconhecimento é de tal magnitude sobre as doutrinas, práticas e costumes históricas do Anglicanismo que resulta uma tarefa quase impossível encontrar, hoje em dia, Anglicanos os quais tenham lido as Homilias (mencionadas nos 39 Artigos) ou líderes que estejam familiarizados com os Cânones de 1604 da Igreja da Inglaterra.

Se lemos atentamente os 39 Artigos da Religião, poderemos perceber rapidamente que é uma documento plenamente e profundamente Protestante e Reformado. Este documento segue a linha teológica dos Reformadores Europeus e Ingleses do século 16 e 17. Inclusive, vemos uma clara influencia da Teologia Reformada Protestante nos Artigos, porque ensina com nitidez as doutrinas de justificação, eleição e predestinação, como também as doutrinas referente aos sacramentos, concílios e governo.

Só o preconceito existente entre muitos anglicanos que tem negado o simples fato de que a fé Anglicana é uma religião Protestante Reformada. Tal preconceito se mostra no fato histórico que a união dos liberais e os anglo-católicos conseguiram fazer dos 39 Artigos da Religião, só um documento histórico sem valor confessional nos países sobre clara influência da Igreja Episcopal dos Estados Unidos.

Minha opinião é que nunca poderá haver verdadeira unidade entre os Anglicanos e Episcopais, se primeiro não são aceitas as 5 Solas da Reforma: Sola Fide (somente a fé); Sola Scriptura (somente a Escritura); Solus Christus (somente Cristo); Sola Gratia (somente a graça); e Soli Deo Gloria (somente glória a Deus).

Se os princípios estabelecidos pelo Quadrilátero Chicago-Lambeth são de inegável importância para estabelecer uma unidade e comunhão entre os cristãos; também, com certeza, não podemos ser parte da igreja de Jesus Cristo, se as Escrituras são subjugadas por tradições que são contraditórias a tradição apostólica, como narrada nas Sagradas Escrituras. Ao mesmo tempo, seria importante perceber que o Quadrilátero Chicago-Lamberth não foi escrito para ser uma declaração de fé ou princípios doutrinários, e se um documento para definir os elementos mínimos para ter plena comunhão com outra igrejas cristãs.

Me resulta realmente preocupante a tendência entre os Anglicanos de aceitar como norma doutrinas e práticas claramente contrárias ao Evangelho e o formulário Anglicano. Não consigo entender, como muitos irmãos tem ignorados a essência mesma do Anglicanismo, tanto as práticas do Livro de Oração Comum (1662), como as doutrinas dos 39 Artigos e o Catecismo.

Os Reformadores Ingleses entregaram, inclusive sua própria vida, pela causa do Evangelho. Se lemos o Livro de Mártires de Fox, encontraremos diversos exemplos de homens de Deus que morreram pela fé em Cristo. Eles afirmaram que a fé Cristã verdadeira era uma fé Protestante e Reformada, porque a Igreja de Roma tinha pecado e abandonado "a fé uma vez entregada aos santos" (Judas 3).

Hoje, encontramos “anglicanos” que afirmam as mesmas doutrinas pelas quais os nosso pais deram suas vidas e, inclusive, se atrevem a blasfemar sua memória publicamente, falando de uma inexistente “inquisição protestante.”

Suponho que existe muitos erros entre certos irmãos, porque se sentem confuso no uso do termo “católicos” pelos Reformadores Ingleses. Isto não deve surpreender, porque hoje está palavra tem um significado totalmente diferente. No século 16, dizer que a Igreja de Inglaterra era católica, significa dizer que era uma igreja cristã verdadeira e que tinha suas raízes, crenças e costumes nas doutrinas dos apóstolos. Afinal, o termo “católico” significa, etimologicamente, “universal.”

Assim, Philip Schaff escreve, “O Livro de Oração Comum é católico (universal), ainda que limpo de todos os elementos supersticiosos; os Artigos de Religião são evangélicos e moderadamente Calvinista” (THE CREEDS OF CHRISTENDOM).

Não posso deixar de perguntar, como as diversas frações surgiram no Anglicanismo quando o clero precisavam ensinar e afirmar os mesmos. Afinal, os 39 Artigos da Religião nunca permitiram espaço para as doutrinas modernistas e as práticas ritualistas.

Finalmente, me preocupa o contexto religioso atual. Observou com temor e perplexidade o aumento constante de "bispos" sem paróquias e com dioceses virtuais. Compra e venda de títulos e ordenações entre os chamados "anglicanos independentes," "católicos independentes" e "ortodoxos independentes." Muitos destes líderes religiosos estão pobremente formados e nunca realizaram estudos formais em uma faculdade teológica ou seminário teológico reconhecido.

Diante deste contexto, a unidade é desejável entre os Anglicanos e os Cristãos, mas está não pode ser alcançada a qualquer preço. Eu acredito na unidade da Igreja Cristã, contudo não sou um idealista que não percebo as grandes dificuldades diante de nos. Por isso, minha alegria se reflete na esperança que declara a Declaração de Princípios das igrejas anglicanas reformadas no mundo: "Esta Igreja manterá comunhão com todas as Igrejas Cristãs, e ajudará avançar tal comunhão entre todos os cristãos, na medida em que se encontre, paz, quietude e amor."

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