Caminhamos nas veredas antigas – Porque sou anglicano


Na minha postagem anterior, escrevi sobre o fato de que o Anglicanismo não nasceu ontem. Nesta postagem, desejo escrever mais sobre a questão da historicidade da Igreja, porque ser Anglicano abre os olhos ao simples fato de que estamos conectados a Igreja de Jesus Cristo una, santa, católica e apostólica.

Uma das experiências que mostraram mais claramente este fato, foi quando estudava em Trinity College em Bristol, Inglaterra, e fui enviado a fazer um estágio em uma paróquia de Leeds, Norte da Inglaterra. Durante o meu estágio, tive a oportunidade de pregar desde um púlpito que foi construído ao redor do século 12. Naquele momento, percebi que o evangelho tinha sido pregado muitas vezes e por muitos ministros desde aquele púlpito. Aquilo causou uma atitude de humildade, já não desejava mais trazer uma nova “revelação,” mas seguir ensinando a sã doutrina.

Os Anglicanos somos conscientes que podemos, e devemos, aprender daqueles que vieram antes de nós, porque eles viveram e enfrentaram as mesmas dificuldades. De fato, acreditamos que Jesus nunca abandonou sua igreja (Mateus 28.20). Deste modo, encontramos inspiração na vida de grandes líderes Cristãos como São Patrício, São Anselmo, São Colombiano, São Agostinho, e tantos outros grandes líderes de antes da Reforma como depois dela.

Por este motivo, a igreja anglicana não tem nada de novo nela. Por exemplo, tem igrejas que surgiram por uma doutrina especifica, como os luteranos, calvinistas, movimento de santidade, etc.; outros surgiram por divergências de governo como os presbiterianos e congregacionais. Outros surgiram de pontos bem específicos de doutrina, como os batistas, os pentecostais e outras igrejas. O Anglicanismo não foi assim.

Só precisamos perceber que a confissão de fé da Igreja da Inglaterra foi um compêndio de doutrinas luteranas e calvinistas. Se comparamos os 39 Artigos da Religião com a Confissão de Augsburg  e a Confissão Belga, observamos uma grande similaridade.

O governo conciliar sob a liderança dos bispos nem era uma idéia nova, só precisamos ver como se parece ao governo desenvolvido nas igrejas ortodoxas. Nem o papel dos leigos foi um desenvolvimento próprio do Anglicanismo, mas fruto da doutrina reformada “do sacerdócio universal dos crentes.” Evidentemente, a Igreja da Inglaterra desenvolvia uma posição, expressada nos 39 Artigos, onde afirmava a necessidade do governo do estado ser um governo cristão. Contudo, isto podíamos observar em Genebra e outras partes da Cristandade.

O anglicanismo tem um claro diferencial em como ler a história da Igreja. Os anglicanos não temos medo de reconhecer os erros e pecados da Igreja, como também o sucesso e missão dela, porque podemos aprender, e devemos aprender, tanto das atrocidades cometidas pelas pessoas em nome de Deus, como as histórias dos heróis da fé.

Muitas igrejas não desejam reconhecer os erros, e tentam mostrar que aquilo não foi nada comparado com o que outros fizeram, mas isto é só falácia.  A Igreja precisa aceitar os seus erros e nunca mais cometer de novo.

Portanto, os Anglicanos somos uma igreja que caminha nas veredas antigas. Encontramos nas práticas antigas, aquilo que precisamos para seguir a caminhada cristã em meio dos conflitos e medos.

Vivemos uma fé em comunidade, porque entendemos que tudo temos em Cristo, e Cristo estabeleceu a Igreja. Em outras palavras, amamos a Igreja, como se ama uma mãe. De fato, a frase, “aquele que não tem a igreja como mãe, não pode ter a Deus como pai” (Cipriano de Cartago), nos lembra que a Igreja, o corpo de Cristo, é quem nutre, protege e ensina a fé Cristã. Sem ela, não haveria Cristianismo.

Esta realidade é vivida pelos Anglicanos com a certeza de que Deus só atua na Terra através da Igreja (Mateus 28:19-20; Efésios 5:25), idéia que causa emoções fortes em diversos círculos evangélicos.

Finalmente, os Anglicanos seguimos olhando para trás, mas voltados para o futuro. A fé Cristã precisa ser aprendida, mas também vivida. Aprendemos com os Credos, os Pais da Igreja, os Concílios universais, os Reformadores e tantos outros, mas fazemos nossas estas verdades eternas, e vivemos com intensidade no trabalho, na escola, no lar, na política, na sociedade, na cultura, na vida toda e em cada momento.

Nossa maior alegria é viver cada instante para a glória de Deus.

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