Os anglicanos são católicos?


Caro irmão em Cristo, sem dúvida são dos excelente questões para começar nossa conversa, e poder esclarecer qualquer dúvida. Permita-me que reformule sua primeira questão da seguinte forma, Será que o Anglicanismo é uma "versão católica inglesa"?

Se desejamos responder essa pergunta, devemos primeiro de compreender se entendemos a mesma coisa quando falamos de "católico." Se entendemos "católico" no sentido em que era usado pelos Reformadores Ingleses, sem dúvida é uma resposta afirmativa. Por outro lado, se entendemos "uma versão católica inglesa," como referendo-se uma Igreja Católica Romana sem Papa, então a resposta não pode ser outra que NÃO.


O interessante é que se você poderá ler literatura de dois grupos que se encontram em extremos opostos eclesiasticamente, os quais compartem a ideia de que o Anglicanismo é uma forma de catolicismo-romano sem Papa. Me refiro a muitos evangélicos e aos anglo-católicos. Deste modo, os evangélicos, reformados e puritanos tem adoptado a posição defendida pelos anglo-católicos, a qual tem tentando mudar a identidade e formulário Anglicano nos últimos 170 anos.

Uma vez dito isto, se entendemos por "uma versão católica inglesa," a compreensão que os Reformadores Ingleses tinham, então a conclusão será bem diferente. Permita-me que me explique com maior clareza. Os Reformadores Ingleses (do século 16 e 17) entenderam que não estavam formando ou construindo uma nova igreja. Eles compreenderam que a Igreja (Católica) de Roma tinha sido corrompida na Idade Média, e precisava ser reformada. Portanto, não tentaram reformular toda a igreja, mas aquilo que era necessário para a salvação e que era contrário as Escrituras.

Eles defendiam um catolicismo reformado ou evangélico, em oposição a Igreja de Roma que tinha um catolicismo deformado. Esta também era a ideia dos outros Reformadores Protestante na Europa.

Isto é evidente no Prefácio do Livro de Oração Comum, escrito pelo Arcebispo Tomas Cranmer. A Reforma Inglesa também criou artigos de fé Cristã, como lemos os 39 Artigos (anteriormente Cranmer tinha escrito os 42 Artigos) e as Homilias. Estes artigos estão em linha com as confissões de fé protestantes e reformadas do século 16 na Europa.

Existia uma relação muito forte entre os reformadores ingleses e os reformadores européias. Dos autores reformados atuais, ninguém afirma nos seus escritos abertamente que os delegados ingleses do Sínodo de Dort eram anglicanos, já que eram membros da Igreja de Inglaterra, portanto eram anglicanos. Como também se esconde que os Puritanos eram um movimento religioso dentro da Igreja de Inglaterra, portanto eram anglicanos. Isto mudaria aos poucos no século 17. Tendo ao final puritanos não-conformistas que abandonaram a Igreja de Inglaterra. Verdade seja dito, nem todos os puritanos aceitavam o formulário Anglicano e muitos deles desejavam ver maiores reformas, contudo muitos puritanos eram bispos da Igreja de Inglaterra, assim podemos afirmar que eram bispos anglicanos.

Os Anglicanos clássicos entendem o termo católico ou catolicidade, no seguinte termos:
"Nós devemos manter aquilo que tem sido acreditado em todo lugar, sempre e por todos" - Vicente de Lerins falando sobre a catolicidade da igreja.
"Um cânon, dois testamentos, três credos, quatro concílios gerais, cinco séculos, e o grupo dos Pais nesse período,..., determinam os limites da nossa fé" - Bispo Lancelot Andrewes, um dos tradutores da Bíblia King James.
Na primeira defesa escrita contra a Igreja de Roma, o bispo John Jewel faz uma grande defesa dos princípios da reforma protestante e as doutrinas da graça. Este livro tem o título "Apologia da Igreja da Inglaterra." Seria de agradável leitura para qualquer calvinismo ou protestante.

Existe uma tendência de tentar apresentar os anglo-católicos, como os sucessores da Igreja Alta. Não à toa, tem pontos em comum. Contudo muitas vozes da Igreja Alta eram ferozes críticos dos anglo-católicos. O próprio Arcebispo Laud que foi morto acusado de ser papista pelos puritanos, escreveu um dos livros mais críticos contra a Igreja de Roma do século 17. Realmente, Laud e os Laudianos não eram calvinistas, contudo tampouco se poderiam ser considerados plenamente demonstrastes ou armianianos. Eles consideram a dupla predestinação, como uma doutrina terrível e desumana, e tinham em alguns pontos posições próximas aquelas defendidas pelos demonstrantes holandeses.

MAS nem todos os membros da Igreja Alta eram arminianos, como mostra o fato de que o arcebispo e puritano de Dublin, James Ussher, tinha pontos em comum com a Igreja Alta.

Interessante é o fato de que a Igreja Alta nunca tento mudar o formulário Anglicano que foi adotado durante o Acordo Elizabetiano, onde se aprovaram o Livro de Oração Comum e o Ordinário, os 39 Artigos, e o Catecismo. Isto somente aconteceria a finais do século 19, com o crescimento e a influência do movimento anglo-católico em USA e Grã Bretanha.

Agora sim, uma vez explicado a primeira questão de forma extensiva, podemos afirmar que as igrejas anglicanas (observe o plural) são igrejas historicamente católicas, protestante e reformadas. Entendendo que estes três adjetivos não são contraditórios, como era também o pensar de Calvino, Bucer, Martinho, Cranmer, entre outros reformadores.

O Anglicanismo historicamente tem sido protestante e reformado, infelizmente hoje resulta difícil ter certeza disto pelo grande sucesso dos anglo-católicos em países como Inglaterra, Escócia, Gal.les e, especialmente, USA. Dos USA, tal ideias tem chegado ao Brasil. Se visitamos os anglicanos africanos, onde se encontram a maioria de anglicanos hoje em dia, encontraremos uma igreja claramente evangélica.

Existe uma visão oficial nas igrejas que formam parte da Comunhão Anglicana de apresentar o Anglicanismo, como um Cristianismo sem uma teologia definida, sendo um barco onde os liberais, anglo-católicos e evangélicos, podem ficar juntos. contudo este pensamento não é propriamente anglicano. Ele representa o sucesso dos Latitudinarios os quais queriam abraçar a todos para evitar os conflitos e guerras, as quais tinham sido vividas de forma trágica na Inglaterra do século 17 .

Finalmente, acredito que não existe melhor defesa da nossa identidade protestante e reformada que os votos feitos pela Rainha da Inglaterra quando foi coroada. Tais votos tem estado em vigor desde o século 17.
"Com a maior de sua força de vontade manterá as leis de Deus e a profissão verdadeira do Evangelho? Com o maior de sua força de vontade manter a Religião Protestante Reformada estabelecida por lei no Reino Unido?"
Portanto, o Anglicanismo é uma versão católica inglesa, como o Presbiterianismo seria uma versão católica escocesa, ou os Calvinistas seriam uma versão católica de Genevra, ou os Luteranos seriam uma versão católica Alemanha, sueca e finlandesa, por exemplo. E, contudo, todos nos somos PROTESTANTES.

Espero que isto tenha respondido sua pergunta, e esclarecido qualquer dúbia ao respeito.

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Este artigo está baseado em um texto sobre o Anglicanismo a partir de uma pergunta  realizada no Facebook por um amigo. Não usei o nome dele para respeitar o seu anonimato. Ele escreveu o seguinte pergunta: "O Anglicanismo é visto como " versão católica inglesa ". Essa afirmativa faz sentido? Caso não seja verdadeira a afirmativa. É correto afirmar que a Igreja Anglicana é "Protestante"?"




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