Um novo, mas antigo, modelo de discipulado


O modelo atual de ensino na maioria dos países ocidentais está baseado no valor dado à promoção da informação e a passar certa informação de uma geração a outra. O conhecimento, e também, portanto, se pode chegar a considerar, a sabedoria, é definido na prática como uma coleção de informação aprendida. De fato, às vezes a relação entre o mestre e o aluno não é considerada importante, ou relevante. Nos casos que se pode considerar positiva, é no sentido do aluno prestar atenção e aprender a informação que é passada nas aulas.

Aqueles que estamos preocupados com a formação, ensino e a educação, percebemos que este sistema tem muitos pontos fracos, só precisamos pensar que aqueles professores que eram considerados os melhores, eram os que mais nos inspiravam além da informação que transmitiam. O que hoje falamos ensino, ou formação, nas Escrituras se chama raciocínio; por exemplo, Atos 17.2; Atos 17.17; Atos 18.4.

Quando observamos o modelo bíblico de ensino, podemos observar que é relacional e interativo (Lucas 2.46-47). Isto é percebido quando observamos a nossa sociedade atual. Qualquer pai responsável se preocupa com a educação dos seus filhos. Portanto, quando os filhos voltam da escola, um pai ou mãe brasileira, talvez, pergunte ao seu filho, “O que você aprendeu hoje na escola?” Se fosse na cultura hebraica, possivelmente, a pergunta seria mais nas linhas seguintes, “Perguntaste alguma boa pergunta hoje?”

Existem mais que suficientes textos nas Escrituras para perceber o modelo de ensino desenvolvido nas Escrituras para preparar aqueles que tem sido chamados por Deus e reconhecidos pela igreja. Existem três aspetos que são necessários: caráter, experiência e conhecimento.

No momento em que um destes três não é presente, então a formação não será levada adiante seguindo os modelos bíblicos. Ao mesmo tempo, poderemos ver que os futuros líderes vão ter áreas fracas no seu desenvolvimento como líderes e servos de Cristo.

Existem diversos modelos nas Escrituras, onde observamos exemplos de grande homens de Deus sendo formados. Dois exemplos no Antigo Testamento tenho em mente.

O primeiro é a formação de Josué que foi levada a cabo por Moises. Antes de falar de Josué, é importante lembrar que Moises mesmo foi por uma formação intensa levada a cabo por Deus através de eventos na sua vida, provas e ensinos transmitidos por Deus ou outras pessoas perto dele.

Josué foi formado para ser o sucessor na liderança de Israel por mais de 40 anos. Isto foi feito observando, ajudando e servindo a Moises. Sem duvida, podemos ter certeza que, depois de 40 anos, Josué tinha adquirido experiência de liderança, o seu caráter tinha sido testado e tinha aprendido através do próprio processo de decisão e ensinos recebidos através de Moises.

O segundo exemplo, é Elias e Eliseu. Elias foi ordenado por Deus ungir a Eliseu como seu sucessor. Ainda que não vemos nenhum mandato implícito da necessidade de preparar Eliseu para o seu ministério, o fato é que Elias recebe Eliseu na sua casa por um período duns 15 anos. Neste tempo, Eliseu observa, assiste e serve com Elias, como o seu servo. Imagine ser preparado pelo profeta Elias. Sem duvida, não precisamos falar do que estes três anos representam na formação do caráter, experiência e conhecimento.

Temos que ter em conta que existiam diversas “escolas de profetas” (2 Reais 2.1-5) em Israel. Porém, nenhum dos sucessores de Elias veio de nenhuma delas.

As vezes, perguntamos as pessoas em que escola ou seminário teológico tem estudado, mas esquecemos que o fato de haver estudado em certo seminário teológico não faz necessariamente dele um líder capaz, santo e sábio.
Por certo, isto não quer dizer que seja contrario aos seminários teológicos. Tudo o contrario, acho que precisamos melhores seminários teológicos, melhores professores e melhor formação, simplesmente acho que existem dois erros no nosso meio. Por um lado, o elitismo acadêmico; em outras palavras, “eu sou bom porque estudei neste ou naquele seminário teológico.” Por outro lado, o misticismo espiritual; em outras palavras, “Deus me chamou e tenho o Espírito que me ensina toda verdade, não preciso de seminário teológico.” Não podemos cair nestes extremos tão fortemente presentes na igreja Brasileira.

Voltando ao modelo de ensino/formação bíblico, não existe nenhuma dúvida que este seguiu sendo desenvolvido durante o exilio e o período entre o Antigo Testamento e Novo Testamento. Os livros deuterocanônicos nos ajudam a entender melhor este período da história de Israel.

Com o passar do tempo, aparecem as bases da relação entre o rabino e o discípulo. Neste modelo, o estudante toma um compromisso de aprender e seguir um mestre. Porém, não era uma questão de aprender o que o mestre sabia, como de chegar a ser como o mestre é (Mateus 10:24-25a; Lucas 6:40). Este modelo está longe de seguir o modelo ocidental atual. De fato, só conseguimos ter um modelo semelhante parcialmente no aprendiz, como era entendido no século passado.

Jesus fez uso deste modelo quando elegeu 12 homens. Ele elegeu os doze para que servissem, aprendessem, observassem e ajudassem ao mesmo tempo que caminhavam juntos no dia a dia. Deste modo, depois de três anos, Jesus confiou a eles levar adiante a missão de Deus na terra, de proclamar o evangelho e fazer visível o Reino de Deus através de igrejas que fossem verdadeiras comunidades de vida cristã.

Estes homens não eram simplesmente seguidores, ou membros, Jesus teve em algum momento 500 destes (1 Coríntios 15:6), mas eram homens eleitos para estar com Ele e aprender diretamente do mestre. Inclusive vemos que no grupo, Jesus tinha uma relação mais intima com 3 deles. De fato, eles puderam ver e fazer certas coisas que os outros não (Mateus 17.1-9). Isto poderia parecer injusto a mente pós-moderna, porém Jesus não está encaixado nos nossos modelos de pensamentos, mas do Reino (João 6.38).

O apóstolo Paulo também seguiu este modelo ao formar e ajudar diversos lideres. Os casos mais destacados são Timóteo e Tito, mas não são os únicos casos (Colossenses 4.7-14). Priscila e Áqüila foram companheiros de Paulo. Este método de observar, servir e ajudar, como vão sendo formados ao lado de liderança madura. Agora, Paulo não foi o único caso no Novo Testamento; por exemplo, Marcos teve relações próximas com Barnabas e Pedro durante o seu tempo de formação.

Não podemos pensar que este modelo só foi restrito ao Novo Testamento, porque podemos observar que este modelo foi o que levou a criar as escolas do bispo que foram os precursores das primeiras universidades na Inglaterra. Nestas escolas, o bispo formava, compartilhava e mostrava o exemplo de liderança aos futuros ministros, enquanto estes serviam, observavam e ajudavam. Por este motivo, podemos observar que, ainda hoje, o sistema educativo na Inglaterra tem a figura do Tutor que se reúne com pequenos grupos de estudantes e, também, pessoalmente.

Este modelo não está restrito simplesmente a levantar novos ministros ordenados, mas também é idôneo para fazer discípulos de Cristo que sejam um verdadeiro modelo de aprendizagem das doutrinas cristãs, de vida cristã e de maturidade (Romanos 15:14; Colossenses 3:16; Tito 2:3-5; Hebreus 3:13; Hebreus 10:25; 1 Pedro 5:5a), como povo de Deus falando e edificando uns aos outros. Fazer isto eficazmente vai requer uma verdadeira amizade, e o grau de sucesso vai estar determinado pelo grau de compromisso e seriedade no processo.

Se desejamos preparar verdadeiros líderes cristãos, temos que começar fazendo verdadeiros discípulos de Cristo, em contra posição a ter membros de igreja. Isto requer uma relação real entre os mentores e os novos convertidos. Os mentores devem ser, em um primeiro momento, líderes que tenham sido formados em fogo, palavra e espírito. Que tenham conhecimento, mas sobretudo tenham caminhado o caminho e enfrentado as batalhas, saindo delas mais fortes. E, portanto, sejam exemplos de vida Cristã.

Discipular não significa só ir a escola dominical ou fazer estudos bíblicos. Com certeza, isso forma parte do processo que deve começar com estudos um a um, mas o novo cristão deve aprender a servir e ajudar ao lado do mentor, seja limpando os banheiros, pintando a igreja, dando de comer ao morador da rua, ou pregando o Evangelho a multidões.

Ao mesmo tempo que isto acontece, requer que o discípulo possa perguntar e questionar porque certas coisas são feitas de uma forma ou outra. Deste modo, poder entender o processo de decisão e, inclusive, ver aquilo que os verdadeiros líderes percebem quando estão no comando. Existe um certo medo a que os discípulos possam perguntar ou questionar, mas o mentor sabe que o discípulo deve chegar a ser maior que ele nos princípios do Reino e estilo de vida Cristã para que o processo tenha sucesso e seja eficaz.

A formação ou discipulado deve ser desenvolvido no contexto e deve envolver os três elementos já comentados anteriormente. Isto requer tempo, sabedoria e discernimento para que o mentor participe no que Deus está fazendo na vida do novo convertido através do Espírito. As vezes, nós líderes desejamos ajudar a um novo convertido, mas, na verdade, estamos interrompendo a obra do Espírito na vida do discípulo.

Este método precisa ser utilizado desde o momento da conversão até a formação de novo clero. Precisa ser aplicado em cada área da igreja (louvor, evangelismo, limpar a igreja, fazer café, cuidar das crianças, mulheres, famílias, etc.); inclusive, nos seminários teológicos. De fato, é engraçado querer que os novos seminaristas estudem grego e hebreu quando podem conseguir programas de computador de graça que mostrem o significado do grego e hebreu. Os ministros ordenados não são teólogos, são servos de Deus que amam o povo de Deus.
Precisamos instruir, capacitar, permitir, enviar e apoiar os dons e ministérios de todos os cristãos. E, deste modo, lembrar que todos somos chamados a ser ministros, ainda quem nem todos sejam ministros ordenados.
Seguindo este modelo bíblico, voltaremos ao desejo de Jesus de fazer dos seus discípulos exemplos vivos de fé Cristã. E, não em vão, foram chamados de cristãos, significando pequenos cristos.

A Igreja precisa seguir este exemplo, em um tempo onde os valores e princípios do Reino não existem mais. Onde um novo convertido chega com uma visão distorcida do mundo e uma cosmovisão contrária àquela que encontramos nas Escrituras. Desenvolvendo um modelo eficaz de discipulado, podemos fazer discípulos, batizar a eles, e ensinar a obedecer tudo o que Jesus ordenou. Só assim, poderemos estabelecer o Reino de Deus e que a vontade do Pai seja feita no Céu como na terra.

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