A Comunhão dos Santos


Se você tem visitado uma igreja anglicana recentemente, talvez, tenha recitado o Credo Apostólico, ou o Credo Niceno. Nele, se encontra uma frase que tem sido muitas vezes mal-entendida, “a comunhão dos santos.”

Esta declaração é uma declaração maravilhosa da graça de Deus, e uma proclamação da Igreja de Cristo triunfante. Contudo, você sabe quem são os santos?

Os Santos

Eu cresci católico-romano; portanto, eu tinha uma visão distorcida de quem eram os santos. A imagem que tinha dos santos, era aqueles homens santos e quase-perfeitos que tinham vivido faz muitos séculos. Eram uma elite dentro da igreja. Ao mesmo tempo, os santos eram aqueles que Deus, realmente, escutava, por isso pedíamos suas orações e intercessões. MAS será que esta idéia dos santos era correta?

Bem, lendo o Novo Testamento, pouco a pouco, fui descobrindo outra realidade. O santos são todos os membros da igreja (Atos 9.13; 1 Cor. 1.2; Ef. 1.15; entre outros) que estão unidos em Cristo (Rom. 6.5), mas não somente com Cristo, também estão unidos uns aos outros (Ef. 4.25; Rom. 12.4-5; 1 Cor. 12). Os cristãos somos parte do povo santo e eleito de Deus. Não porque sejamos melhores que os outros, nem tampouco porque sejamos superiores moralmente, mas os cristãos somos santos, simplesmente porque Deus nos faz santos e nos recebeu na sua Igreja, então somos parte de “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9).

Evidentemente, isto não significa que estejamos livres de pecado, ou que sejamos moralmente perfeitos. De fato, Paulo diz que os Coríntios eram santos, e lendo as epístolas aos Coríntios, temos certeza de que eles não eram perfeitos, nem muito menos. De fato, encontramos muitos pecados em meio deles. Contudo, Deus os faz santos, não por eles, mas apesar deles. Deus os santificou através do sacrifício de Jesus na cruz, onde o perdão dos pecados se faz possível. Ao mesmo tempo, estamos sendo aperfeiçoados e santificados dia a dia, como Paulo escreveu aos coríntios para viver vidas santas.

Ser santo significa ser parte da “comunhão dos santos,” a Igreja de Cristo. Se observamos atentamente, percebemos que o termo quase sempre é usado em plural. Isto nos lembra que a Igreja não trata somente sobre nós, ou sobre a congregação à qual estamos vinculados. Os cristãos estamos ligados com todos os outros cristãos ao redor do mundo (veja 1 Pedro 5.9). Mas não termina aqui, porque estes não são os únicos irmãos que temos, nem os únicos com os que temos comunhão.

Há uma “grande multidão” de irmãos e irmãs no céu (Ap. 7.9). Esta verdade nos força a ver além dos nossos olhos para perceber a realidade além do mundo que vemos. Com muita facilidade, os cristãos esquecemos a realidade da ressurreição. Inclusive, alguns tem dúvidas, e pensam somente como uma passagem para ir ao céu. Agora bem, não devemos duvidar da ressurreição, porque Jesus morreu e ressuscitou. Inclusive, Jesus diz sobre o Pai, “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, mas de vivos” (Mat. 22.32).

Qual são os benefícios da “comunhão dos santos”?

Sem nenhuma dúvida, pelo fato de que um dia poderemos encontrar de novo com aqueles que já não estão mais conosco, temos uma grande esperança que faz toda a diferença, o que não tem aqueles sem Deus (1 Tess 4.13). Nossa comunhão é perfeita com a Igreja de Cristo, presente e passada, homens e mulheres, de todos os povos, línguas e idades. De fato, aqueles que tem ido com Deus, não tem ido embora para sempre. Seguimos estando unidos vitalmente com todos eles que estão unidos a Cristo. Por isso, não se faz necessário falar que nós amávamos alguém muito, mas segue sendo uma realidade presente, “Eu amo você.”

A “comunhão do santos” traz grande alegria a saber que estaremos toda a eternidade com os irmãos que, ainda hoje, estão conosco. Na era da internet, estamos conectados com o mundo. Imagine o dia quando estejamos muito mais conectados e interligados que estamos hoje.

Finalmente, nos lembra que o tempo é limitado na Terra, mas é eterno no céu. Portanto, nos abre os olhos para a realidade da futilidade das coisas materiais e nos lembra das coisas mais importantes, do Reino de Deus. Assim, estamos conectados como família aos apóstolos Pedro, João, Tiago e Paulo; Cipriano; Augustinho; Lutero, Cranmer; Calvino; Bucer; Edwards; Ryle; Wesley; entre muitos outros.

Então, por que tem dias de santos na igreja anglicana?

Se é verdade que todos somos membros do povo santo de Deus, também é certo que certos homens foram um exemplo de vida, coragem e amor a Deus e serviço à Igreja de Cristo.

Desejamos lembrar suas histórias para ser uma inspiração a viver vidas entregadas a Cristo, totalmente. Muitos deles tinham certeza de suas fraquezas e humanidade, contudo Deus os usou de uma forma especial para levar adiante o seu propósito na Terra. O testemunho da vida deles, ainda hoje, séculos depois de terem vivido, segue falando às nossas vidas.

Por este motivo, a igreja anglicana nomeou certos dias santos para lembrar o testemunho daqueles que viveram e morreram antes de nós, e agradecer a Deus pela sua graça e misericórdia com eles e conosco. E pedimos que Deus nos dê a mesma coragem para a glória dEle.

Os anglicanos oram aos santos?

Se um anglicano ora aos santos, ou pede aos santos interceder por ele, pode ter certeza de que não é anglicano, ainda que seja membro da Igreja Anglicana.

A Igreja Anglicana não ora aos santos, mas ora com os santos. Nossas orações vão dirigidas somente a Deus em nome de Jesus e guiadas pelo Espírito Santo. Nossa adoração, veneração e louvor é somente para o Deus Trino, Pai, Filho e Espírito Santo. Agora bem, somos consciente de que quando nos congregamos, estamos diante do Trono da Graça. Ainda que estejamos em um lugar geográfico, o espírito está na presença do Altíssimo e adoramos a Deus “com os anjos e arcanjos e com toda a companhia celestial” (Oração Eucarística LOC 1662). Por este motivo, os Anglicanos sempre desejamos louvar e adorar a Deus em espirito e verdade, considerando que o culto e a liturgia é central na vida da Igreja. Nela, nos unimos a toda a Igreja, tanto militante como triunfante. Somos um só corpo unidos em Cristo, por Cristo e para Cristo.

Deste modo, oramos e proclamamos no culto “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo; como era no princípio, é hoje e para sempre, eternamente. Amém.”

E louvamos a Deus nas palavras do TE DEUM,
A ti, o glorioso coro apostólico louva;
A ti, a congregação dos profetas louva;
A ti, o nobre exército dos mártires louva;
A santa Igreja reconhece por toda a terra a ti...
Esta é a maravilhosa e gloriosa comunhão dos santos a qual todos os cristãos estamos chamados a participar unidos em Cristo, agora e para sempre. Amém.


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