O óbvio, nem sempre é tão óbvio

escandalos evangelicos

Existe uma crise real de desconhecimento bíblico entre os evangélicos. Os pastores, nem todos, tem tido oportunidade para receber uma formação bíblica adequada para ensinar e instruir na Palavra de Deus.


Como filhos da Reforma, seria óbvio pensar que todos seguissem certas doutrinas e práticas que foram consideradas essenciais e, inclusive, fundamentais na Reforma e, até hoje, nas igrejas protestantes. Estas tem feito da igreja o que tem sido por muito tempo. Agora, se estes elementos podem ser considerados como óbvios, na verdade nem são tanto.

Na última década, Deus tem me permitido poder visitar muitos países em quatro continentes e uma grande variedade de denominações (desde os fundamentalistas aos neopentecostais) onde preguei e ensinei nos seminários teológicos deles. Isto tem permitido observar as tendências atuais, e preciso falar que cresceu em mim uma grande preocupação sobre o futuro da Igreja no século 21.

Uma das tendências que é mais óbvia é a falta de conhecimento bíblico. Poderíamos falar de analfabetismo bíblico entre os cristãos. Causada pela falta de disciplina na hora de ler, estudar e meditar na palavra de Deus. Um dos grandes slogans da Reforma foi "sola scriptura." Porém, parece que falamos "a escritura fica só lá no cantinho."

De fato, estou convencido que a situação atual da igreja é a que é, principalmente devido ao fato de que os Cristãos não se dedicam a ler, meditar e estudar as Escrituras. Porque não dá para acreditar no tema de pastores marcando território, líderes de louvor imitando o leão, pastores dançando descontroladamente, pastores sendo chamados apóstolos ou patriarcas sem ser uma coisa ou outra.

Podemos encontrar cristãos que vão ser capazes de debater idéias e doutrinas cristãs. Muitos outros vão parecer cristãos de verdade, porque tem a linguagem e as expressões cristãs. Inclusive falam no momento certinho. Porém, quando você pergunta onde estas expressões, ou doutrinas, se encontram nas Escrituras, ficam sem graça.

Uma vez, um pastor das Assembleias me falou que eles acreditam no Espírito Santo (será que eu não acredito?), e que não era só a Bíblia o que eles pregavam, mas eram também as revelações que recebiam. Se não conhecera melhor as Assembleias de Deus (nas quais tenho muito bons amigos pastores nos USA, Espanha e UK) ficaria horrorizado que uma denominação estivesse ensinando tal heresia. Infelizmente, as próprias Assembleias estão sofrendo no Brasil com tantas divisões chamadas de "ministérios."

Eu sempre falei para os membros das igrejas onde fui pastor, "Se eu falo algum erro, me digam. E, nunca acreditem somente no que eu falo, porque eu falo, mas porque vocês veêm que está nas Escrituras."

Como cristão, eu faço minha aquela idéia anglicana de que, se me mostram uma doutrina que acreditamos como contrária às Escrituras, então a mudaremos sem duvidar.

Infelizmente, como podemos saber se estamos acreditando em alguma coisa errada, se não lemos as Escrituras e somos desconhecedores delas?

Talvez, se somos sinceros, deveríamos falar a verdade e dizer que não acreditamos que a Bíblia é a palavra de Deus porque, se realmente acreditamos com todo o coração, mente e alma, podemos passar semanas ou meses sem ler as Escrituras?

Pedro respondeu uma vez a Jesus, "onde iremos se você tem palavras de vida eterna..." Estas palavras de vida eterna se encontram nas Escrituras: como podemos acreditar, e não viver aquilo que acreditamos?

Alguém uma vez falou que se realmente quer saber no que alguém acredita, não pergunte, mas observe os fatos e as ações dele.

Talvez, as coisas mais óbvias, nem são tanto. Seria óbvio esperar que todos os evangélicos lessem as Escrituras e fossem verdadeiros conhecedores delas e, portanto, vivessem os ensinos de Cristo. Porém, nem uma coisa nem a outra é certa.

Não sei se os próximos artigos serão de ajuda para alguns dos leitores, mas desejo quebrar esta tendência. Por esta razão, estarei escrevendo como podemos ler e estudar a palavra de Deus, e propor um método de leitura conhecido como Leccionário.

Em qualquer caso, o primeiro passo é reconhecer o que deveríamos estar fazendo e, na verdade, não estamos; então, podemos dar o segundo passo  que é começar a fazer aquilo que devemos fazer.

Sejamos corajosos em quanto as coisas de Deus, e sejamos esquecidos em quanto as coisas do mundo.

– Soli Deo Gloria –


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