A defesa da fé, sem perder os papéis

Os cristãos estamos chamados a defender a verdade, e ser capazes de ensinar aquilo que acreditamos com total convicção. A verdade é fundamental à fé cristã, porque ela é, na verdade, a pessoa de Jesus Cristo. O desafio é que nem sempre a Igreja de Cristo tem sido capaz de defender a fé de uma forma que mostre o caráter de Cristo ao mundo. Só precisamos lembrar da Inquisição Espanhola, das guerras de religião, ou das perseguições religiosas. Estes são episódios tristes na história da Igreja.

Nos últimos 200 anos, muitos destes conflitos tem tomado um caráter acadêmico e teológico, o que tem mudado algumas das características de tais confrontos. Estas tem causado divisões na Igreja de Cristo, acusações uns contra os outros e, inclusive, uma perda da capacidade missionária da Igreja.  
Jesus Cristo nos ensinou quais seriam as conseqüências de uma casa dividida, “conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá” (Mateus 12:25).
Este texto bíblico nos lembra da simples verdade de que quando os membros do corpo visível de Cristo marcam uns aos outros, como oponentes na batalha espiritual, então estamos plantando sementes de discórdia que, com o tempo, produzirão divisões, controvérsias amargas e conflitos pessoais. A Bíblia nos ensina como devemos defender a fé de acordo com a vontade de Deus, e como não devemos fazer isso.
Jesus é consciente do preço que uma casa dividida vai ter que enfrentar. Ainda que o texto é uma resposta a uma falsa acusação contra Jesus, a resposta nos mostra um ensino universal que se aplica a todas as áreas da vida. O espírito de disputa se encontra fortemente arraigado nas igrejas cristãs, sendo apresentado de santidade e sã doutrina. Contudo, os frutos de tal desejo nos mostra totalmente o contrário que os proponentes nos desejam fazer pensar. A missão de muitas disputas terminam trocando o amor e a caridade cristã em ódio, a paz em amargura, e a graça para preconceitos e intolerância. Se as igrejas cristãs ignoram a advertência de Jesus, estarão caminhando na direção do próximo conflito que termina em desolação, uma vez mais. 

A influência da sociedade é maior do que pensamos na nossa forma de pensar e atuar. Vivemos em uma cultura altamente competitiva. Isto se mostra em todos os elementos próprios que são adaptados nas diferentes áreas da vida, nos negócios, na política, e nos esportes. Por um lado, desejamos o sucesso pessoal e, por outro lado, percebemos que este é impossível sem os outros, já que resulta difícil vencer sem trabalhar em harmonia como time para alcançar os alvos marcados. Na Igreja, também acontece esta contraposição de desejos e valores. Por isso, resulta urgente que renovemos nosso entendimento e transformemos a forma de pensar e agir do que determina a sociedade ao estilo de vida do Reino. 
O desejo pela justiça e a verdade sempre é um aspecto importante para estar disposto a defender a fé Cristã. Contudo, precisamos ser sábios. Escrevi na semana passada vários artigos sobre a unidade e a importância da diversidade na Igreja visível de Cristo. A verdade nem sempre está em oposição à diversidade e a caridade dentro do corpo de Cristo. O problema é quando a busca pela verdade nos leva a tomar posições intransigentes com os outros irmãos que pensam diferente, sem perceber se tais diferenças são centrais à fé Cristã. Se levamos certas questões longe demais, acabam causando preconceito, intolerância e perseguição. As pessoas controvertidas encontram reafirmação entre aqueles que pensam da mesma forma. Eles chegam à falsa noção que provando como de errados estão seus oponentes, se afirma até que ponto eles estão certos. Infelizmente, isto se observa na política brasileira. Agora, encontramos cristãos adotando tais estratégias, também. 
As vezes somos rápidos demais em criticar as atitudes indesejáveis na Igreja, mas esquecemos o mandato de amar uns aos outros, como tentamos manter a unidade do espírito nos laços da paz. Não estou dizendo que não devemos evitar o pecado, nem estou dizendo que devemos condenar as ações malvadas e erradas, contudo existem muitas formas em que podemos ajudar aos irmãos para arrepender-se e viver vidas consagradas a Deus. 
Em Judas 3, o autor desta epístola ensina que devemos defender pela fé que temos recebido. A palavra “defender” vêem do grego ‘epagonizomai,’ que significa batalhar, combater, para ou sobre. Esta palavra tem um aspecto importante da retidão da caminhada em fé. Está abrigada no amor de Deus, ancorada na esperança e não tem como ênfase os problemas, mas em vez disso nas soluções, que se encontram no Senhor, Jesus Cristo. 
A palavra “discórdia” é uma questão diferente completamente na fé Cristã. Este termo vêm do grego, ‘erithea,’ e é uma arma muito sutil, mas com enfeito nefasto. ‘Erithea’ se pode considerar um estilo de sabedoria diabólica que poderia viver nos nossos corações e sempre está fora da vontade de Deus. Esta atitude é desobediente à verdade e destrutiva para a Igreja de Cristo, sendo um espírito de rivalidades invejosas e ambições egoístas, produzindo uma paixão ardente para provocar dano ao oponente. Produz um sentido exagerado e teimoso da própria retidão que faz quase impossível que a pessoa perceba o seu próprio erro. Tal atitude causa divisão entre dois grupos: eles e nós. Produz que os dois lados achem que estão certos, e os outros estão errados. 
As Escrituras nos ensinam uma atitude bem diferente. Nos ensinam a ser bondosos, como defendemos a fé sem causar discórdia. Assim, venceremos o mal com o bem, falando a verdade em amor e não permitindo que nada impeça a eles fazer assim.
É verdade que alguns pregam Cristo até mesmo por inveja e discórdia, mas outros o fazem com boas intenções. Estes o fazem por amor, sabendo que fui posto aqui para defesa do evangelho” (Filipenses 1:15-16).
Paulo nos mostra os próprios desafios que enfrenta diante das críticas que são levantadas contra ele, mas sua resposta não é causar discórdia. O apóstolo se alegra de que o evangelho está sendo pregado. Afirmando aqueles que pregam o evangelho por causa do amor. A discórdia rouba a Igreja da graça e da paz, e preenche o vazio com instabilidade e toda obra do malvado.
Mas não vos orgulheis, nem mintais contra a verdade, se tendes inveja amarga e sentimento ambicioso no coração. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e demoníaca. Pois onde há inveja e sentimento ambicioso, aí há confusão e todo tipo de práticas nocivas” (Tiago 3:14-16)
A presença de inveja e contenda sempre deve ser considerada uma preocupação séria. A Bíblia é clara, ‘erithea’ está associada a toda obra perversa. Por mais que a disputa seja prejudicial para a Igreja, é mais prejudicial para aqueles que a abrigam no seu coração. 
Assim, ele dará a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e imortalidade; mas dará ira e indignação aos egoístas (erithea), aos que obedecem ao pecado em vez de obedecer à verdade. Trará tribulação e angústia a todo ser humano que pratica o mal, primeiro ao judeu, depois ao grego; mas glória, honra e paz a todo que pratica o bem, primeiro para o judeu, depois para o grego” (Romanos 2:7-10).
Na igreja primitiva, observamos que existiam tensões e disputas entre os Judeus e os Gentios. Paulo mostra com clareza que todos os cristãos estamos na mesma Igreja de Cristo, e que nenhum de nós está em posição de trazer condenação ao outro. Esta verdade se faz realidade em que cada homem deverá dar contas dos seus atos (Romanos 2:6), e não existe nenhuma diferença para Deus referente às pessoas (Romanos 2:11). Deus conhece os corações. ele conhece se nossas ações são fruto do amor, ou da discórdia. Deus está interessado no coração do homem, porque é nele onde nascem e surgem as disputas e conflitos com os outros, especialmente com os irmãos com os quais discordamos de sua atitude ou crenças.
As boas novas é que Jesus eliminou as diferenças entre nós na Cruz. Jesus Cristo é nossa paz, nos tendo reconciliado todos juntos nEle através da sua redenção. Se somos maduros na fé, somos capazes de receber um irmão na fé com a mesma bondade que o Senhor, Jesus Cristo, nos recebeu. Nós não tentamos ter disputas contra ele, mas buscamos restaurar no nosso irmão a fé no espírito de mansidão.
Aqueles que são conflictivos são desobedientes à verdade. Como seguem obedientes aos seus próprios desejos, sua perspectiva se torna governada por emoções vingativas. Sua indignação se move sobre coisas que os incomoda e estouram com ira à mínima provocação. Isto leva à própria opressão e isolamento da alma. Por isso, as Escrituras nos advertem que não devemos dar lugar às atitudes malvadas em meio de nós.
Não façais nada por rivalidade nem por orgulho, mas com humildade, e assim cada um considere os outros superiores a si mesmo. Cada um não se preocupe somente com o que é seu, mas também com o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que, existindo em forma de Deus, não considerou o fato de ser igual a Deus algo a que devesse se apegar, mas, pelo contrário, esvaziou a si mesmo, assumindo a forma de servo e fazendo-se semelhante aos homens. Assim, na forma de homem, humilhou a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2:3-8)
Pois a vontade de Deus é que, fazendo o bem, caleis a ignorância dos insensatos. Já que sois livres, não useis a liberdade como pretexto para o mal, mas vivei como servos de Deus... Para isso fostes chamados, pois Cristo também sofreu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais os seus passos. Ele não cometeu pecado, nem engano algum foi achado na sua boca; ao ser insultado, não retribuía o insulto, quando sofria, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pedro 2:15-16, 21-23).
A paciência continua sendo o melhor modo de silenciar a ignorância do homem. Precisamos falar a verdade em amor. Este é o coração da verdadeira defesa da fé.
Que Deus nos conceda a graça e sabedoria para lutar justamente na batalha espiritual que estamos engajados, reconhecendo que nosso inimigo não é o nosso irmão, e assim possamos vencer o mal com o bem. Que nossos esforços sirvam para edificar o Corpo de Cristo. Deste modo, o fruto do Espírito permanecerá em nós, crescendo em todo o conhecimento de Deus e sendo nós aprovados no dia do juízo final.
Para que aproveis as coisas superiores, a fim de serdes sinceros e irrepreensíveis até o dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (Filipenses 1:10-11).


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