Entendendo o significado do Batismo


Uma das questões que tem dividido mais os cristãos desde a Reforma Protestante, tem sido sem nenhuma dúvida o Batismo. Sobretudo, o Batismo de crianças. Algumas denominações surgiram a partir da sua posição contrária a este fato; por exemplo, as Igrejas Batistas. Nos acusam de acreditar e praticar um Batismo que não tem nenhuma base bíblica e, inclusive, de estar errados por fazer isso.

Isto não poderia estar mais longe da verdade, embora muitos deles façam proselitismo, tentando influenciar os Anglicanos do seu erro, procurando convencer-nos de que, caso não sejam batizados como adultos em profissão de fé, estão sendo desobedientes à ordem clara de Jesus. Isto tem causado que algumas pessoas questionem a validade do seu Batismo.

Por isso, se faz necessário explicar a base bíblica a partir da qual os cristãos são batizados na sua infância, tendo plena confiança no Batismo, como é realizado na Igreja Anglicana Reformada.

No Livro de Oração Comum, lemos que “o Batismo marca o início de uma jornada com Deus que continua para o resto de nossas vidas, sendo o primeiro passo em resposta ao amor de Deus.”

O Batismo é um sacramento instituído por Jesus Cristo. No Novo Testamento, lemos que Jesus mandou Seus apóstolos, “ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...”(Mateus 28:19).

No sacramento do Batismo, como na Ceia do Senhor, nós acreditamos que o mais importante é o que Deus está fazendo para nós e por nós - e não o que nós fazemos - embora a nossa participação seja importante. Em outras palavras, nós recebemos a benção de Deus em Cristo pelo Espírito Santo.

Na Igreja Anglicana, o Batismo está firmemente baseado no Pacto, estabelecido no Antigo Testamento e renovado no Novo Testamento. Em outras palavras, o acordo pela qual Deus mantém uma relação especial com Seu povo eleito. Isto se faz evidente nas palavras, “Eu serei o Seu Deus, e eles serão meu povo.”
--- Veja os seguintes textos bíblicos: Gê. 17.1-8; Êx. 6.1-8; Êx. 29.42-46; Lv. 26.40-45; Rute 1.15-16; 2 Sam. 7.4-16; Jer. 7.21-16; JEr. 11.1-5; Jer. 24.1-7; JEr. 30.8-22; Jer. 31.1-3; Jer. 31.31-34; JEr. 32.36-42; Ez. 11.14-21; Ez. 14.1-11; Ez 34.11-30; Ez 36.22-32; Ez 37.11-28; Os. 2.16-23; Os. 1.6-11; Zc. 8.1-8; Zc. 13.7-9; Rom. 9.19-26; 2 Cor. 6.14-7.1; Heb. 8.6-13; Ap. 21.1-7.
1. Entendendo a Promessa do Batismo

No Antigo Testamento, a idéia de pacto é fundamental. Os Anglicanos acreditamos que, enquanto Cristo deu o mandato ao redor de 2,000 anos atrás, se desejamos entender o significado verdadeiro de batismo, precisamos entender o significado de pacto. Pacto, como já lemos, fala de um relacionamento em que Deus entra com o seu povo, primeiro através de Abraão. Deus elegeu Abraão, que pertence a Ele e Sua descendência seria o próprio povo de Deus. Deus fez um pacto, ou acordo, com Abraão. Neste pacto, Deus deu certas promessas e fez claro que Ele esperava dos descendentes de Abraão ser fiéis a Ele na obediência à Sua lei. O pacto era para ser para sempre, e inclui tanto adultos crentes e também seus filhos (veja Gê. 17:1-27)

Como símbolo visível de pertencer ao pacto do povo de Deus, os bebês varões de Israel deviam ser circuncisados no oitavo dia depois do nascimento. Este ritual era um símbolo da entrada inicial ao Pacto do povo de Deus. Depois, Deus indicou que o símbolo visível deste pacto de Sua graça seria mudado quando, através do profeta Ezequiel, Ele declarou:

Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; eu vos purificarei de todas as vossas impurezas e de todos os vossos ídolos. Também vos darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Também porei o meu Espírito dentro de vós e farei com que andeis nos meus estatutos; e obedecereis aos meus mandamentos e os praticareis. Então habitareis na terra que eu dei a vossos pais, e sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus” (Ez. 36:25-28)

No Novo Testamento, aprendemos que o pacto de Deus foi ampliado para incluir todos os povos, as nações e as pessoas, não somente o povo de Israel. Assim, os cristãos entram em uma relação de aliança com Deus (Heb 6:13-18). A aliança foi renovada em Cristo, mas a relação especial ainda persiste.
Logicamente, como em Abraão, as crianças ainda estão incluídas no pacto. "Eles serão abençoados" (Sal 37:26). Eles também são santos, como o apóstolo Paulo diz em 1 Coríntios 7:14. Deste modo, excluir as crianças das bênçãos da Nova Aliança, como alguns procuram fazer, coloca as crianças de crentes em uma posição desfavorável no inicio da sua jornada cristã, mas, sobretudo, sugere uma forte inconsistência entre os benefícios do Novo e Antigo Pacto.

2. Entendendo o Sinal do Batismo

Como a mudança do símbolo da circuncisão mudou ao batismo de água, foi dado a Igreja de Cristo para que os cristãos e os seus filhos em todas as nações pudessem ser assegurados que pertenciam a Deus pelo pacto da graça.

Nos tempos do Antigo Testamento, a promessa espiritual foi selada com um sinal físico, chamado circuncisão (Gênesis 17:10-27). Deus coloca a seu ênfase não no sinal exterior, mas na realidade interior (Romanos 2:28-29). A Circuncisão, então, era o sinal e selo da Aliança entre Deus e o Seu povo. Realmente, há somente uma aliança, ainda que chamamos de Antigo Pacto e de Novo Pacto. Na verdade, só aconteceu uma mudança na sua forma visível, depois da vinda de Cristo. A circuncisão mudou para o batismo. Assim, a Igreja recebeu de Cristo o mandato de que os cristãos e os seus filhos, em todas as nações, receberiam este sinal, como segurança de que pertenciam a Deus pelo pacto da graça. Isto pode ser visto claramente nos seguinte textos bíblicos:

Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos os que estão longe, a quantos o Senhor nosso Deus chamar” (Atos 2.38-39).

Nele também fostes circuncidados com a circuncisão que não é feita por mãos humanas, o despojar da carne pecaminosa, isto é, a circuncisão de Cristo, sepultados com ele no batismo, com quem também fostes ressuscitados pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2:11-12)

Uma das mulheres que nos ouviam, chamada Lídia, vendedora de tecidos de púrpura, da cidade de Tiatira, era temente a Deus. O Senhor lhe abriu o coração para acolher as coisas que Paulo dizia. Depois de batizada com as pessoas de sua casa, ela nos suplicou: Se me considerais crente no Senhor, entrai e permanecei em minha casa. E nos compeliu a isso” (Atos 16:14,15)

Os Anglicanos acreditamos que o Batismo é a iniciação à Nova Aliança, como a circuncisão era a iniciação na Antiga Aliança (vejam Col. 2.11-12).

A circuncisão era aplicada somente às crianças do sexo masculino de crentes no povo de Israel, enquanto, hoje, o batismo é realizado a todas as crianças cristãs, tanto aos meninos como as meninas (Gal. 3:28).

Os dois sacramentos de Cristo tem suas raízes na Aliança. A Ceia do Senhor toma o lugar da Páscoa (1 Cor. 5:7-8) e o Batismo toma o lugar da circuncisão (Col 2:11-12).

3. Entendendo a Prática do Batismo

Acreditando, então, que a promessa é para nós e para nossos filhos (Atos 2:38-39). Assim, é o dever dos pais buscar para seus filhos o sinal da iniciação cristã – o Batismo.

Como no Antigo Testamento somente os crentes e seus filhos receberam o sinal da circuncisão, assim, também, sob a Nova Aliança, somente os crentes e seus filhos recebem o sinal, sendo agora o Batismo. Evidentemente, os adultos, que não foram batizados na infância, também são batizados na profissão de sua fé.

No Batismo, os pais e os padrinhos devem responder as seguintes perguntas realizadas pelo Ministro:
  • Vocês crêem em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra? Vocês creem em Jesus Cristo seu único Filho, Nosso Senhor: O qual foi concebido por obra do Espírito Santo, Nasceu da Virgem Maria; Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, Foi crucificado, morto e sepultado; Desceu ao Hades; Ressuscitou ao terceiro dia; Subiu ao céu, E está sentado à mão direita de Deus Pai Todo-poderoso: Donde há de vir a julgar os vivos e os mortos? Vocês creem no Espírito Santo; Na santa Igreja de Cristo; Na comunhão dos santos; Na remissão dos pecados; Na ressurreição do corpo; E na Vida Eterna?” - Respondendo cada um deles, "eu creio".
  • Desejas ser batizado nesta fé?” – Respondendo, “Este é meu desejo.”
  • Então, manterás obedientemente a vontade santa de Deus e seus mandamentos, e caminharás na mesma forma todos os dias de tua vida?” – Respondendo, “Eu vou.”
4. O Significado do Batismo

O Batismo significa quatro aspectos importantes da obra redentora de Jesus Cristo que devemos entender:
  1. O Batismo nos limpa e renova espiritualmente, como a água faz com o nosso corpo. Isto pode ser entendido pelo uso que tinha o Batismo no Antigo Testamento. Era parte do ritual de conversão de um gentio ao judaísmo, e significava a limpeza dos pecados. Esta relação é mantida no pacto da graça. “Agora, por que te demoras? Levanta-te, sê batizado e lava os teus pecados, invocando o seu nome” (Atos 22.16). Isto não significa que sejam salvos, simboliza a limpeza dos nossos pecados pelo sacrificio de Cristo na Cruz.
  2. O Batismo nos une com Cristo. O apóstolo Paulo escreve aos cristãos primitivos, lembrando que estão unidos a Jesus através do batismo (Romanos 6:04, Colossenses 2:11-12).
  3. O Batismo é a entrada na Igreja e a iniciação cristã. Simboliza que o batizado é feito um membro da Igreja, o corpo de Cristo (1 Coríntios. 12:13).
  4. O Batismo forma parte essencial do Pacto da graça. “Nele também fostes circuncidados com a circuncisão que não é feita por mãos humanas, o despojar da carne pecaminosa, isto é, a circuncisão de Cristo, sepultados com ele no batismo, com quem também fostes ressuscitados pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” (Col 2:11-12). O apóstolo Paulo nos ensina que os cristãos têm sido circuncidados por Cristo e batizados em Cristo. Assim, é um único pacto expresso de duas maneiras diferentes.
5. O Método do Batismo

Os Anglicanos não acreditamos que a imersão é necessária para o batismo, ainda que seja um método bíblico e de grande simbologia. Contudo, acreditamos que a imersão da pessoa na água não é necessária, já que o Batismo poderá ser administrado por efusão ou aspersão de água. (Veja Ezequiel 36.25-28)

Nem sempre, o uso da palavra Batismo implica “mergulhar.” Existem várias ocasiões nas Escrituras que esta palavra tem outro significado (veja Ec. 34.25; Lc. 11.38). Portanto, os casos que aparecem para provar imersão são inconclusivos de que o Batismo somente possa ser realizado por imersão.

Aspersão é um símbolo apropriado da vinda do Espírito de Deus sobre uma pessoa. Aspersão foi o modo principal do Antigo Testamento de purificação cerimonial e a palavra grega para o batismo é usada para descrever isso no Novo Testamento (Hebreus 9:10).

6. O propósito do Batismo

No Artigo 27, dos Artigos da Religião da Igreja de Inglaterra, diz, “O Batismo não só é um sinal de profissão e marca de diferença, com que se distinguem os Cristãos dos que o não são, mas também um sinal de Regeneração ou Nascimento novo, pelo qual, como por instrumento, os que recebem o Batismo devidamente, são enxertados na Igreja; as promessas da remissão dos pecados, e da nossa adoção como filhos de Deus pelo Espírito Santo, são visivelmente marcadas e seladas, a fé é confirmada, e a graça aumentada por virtude da oração de Deus. O Batismo das crianças deve conservar-se de qualquer modo na Igreja como sumamente como à instituição de Cristo.”

O batismo não faz de uma criança um cristão. O Batismo não salva, nem confere nada a ninguém. É um sinal para mostrar a graça de Deus e a ação do Espírito Santo sobre a Igreja de Cristo. O estado da criança não é de alguém que tem sido feito um cristão, automaticamente, por causa da aliança, mas sim de alguém a quem tem sido oferecida a promessa da salvação, particularmente.

Agora bem, aquilo que tem sido oferecido de graça, deverá ser recebido pessoalmente pela fé. O batismo infantil, então, antecipa um momento em que a criança vai receber a Cristo, como Senhor e Salvador, pela fé pessoal.

Na Bíblia, o plano de salvação é um pacto de graça, que começa no Antigo Testamento, e encontra o seu cumprimento no Novo Testamento em Jesus Cristo. Devidamente compreendido o Batismo, como se pratica na Igreja Anglicana Reformada, é um testemunho do amor e da graça de Deus, e nos traz grande conforto e segurança sobre o que Deus Todo-Poderoso está fazendo tanto nas nossas vidas, como na vida dos nossos filhos.

7. O desafio do Batismo

O Batismo traz consigo um desafio para a igreja local que se compromete a orar e ajudar aos pais na formação, instrução e educação cristã. Por isso, o Batismo acontece em um culto público, geralmente.

Os pais e padrinhos realizam certas promessas em nome da criança. Assim, são alentados para animar aos batizados a viver a fé e o estilo de vida de Cristo na comunidade cristã, cuidando deles e ajudando aos batizados para crescer espiritualmente e tomar o seu lugar na vida e o culto da Igreja de Cristo. Não em vão, o sinal visível da Cruz será feito na testa da criança, com esta palavras, “recebemos esta Criança na congregação do rebanho de Cristo; e faço a selo com a sinal da Cruz, não deverá a partir de agora ter vergonha de confessar a fé de Cristo crucificado, e corajosamente lutar sobre o estandarte em contra do pecado, o mundo e o mal, e continuar fielmente, como soldado de Cristo, e fervorosamente até o final da sua vida” (O Livro de Oração Comum).


0 Comentários