É necessário estar na Comunhão Anglicana para ser Anglicano?


Até recentemente, podíamos ouvir com grande insistência que ser anglicano era estar na Comunhão Anglicana. Isto ainda pode ser escutado em alguns círculos no Brasil e outras parte do mundo.

Esta controvérsia não faz muito sentido. Somente se entende, porque, à diferença dos luteranos e presbiterianos, os Anglicanos foram desenvolvidos em igrejas nacionais e regionais, as quais nunca tiveram que encontrar-se com alternativas a ser consideradas. Por exemplo, a IELB e a IECLB ou a IPB e a IPI.

Evidentemente, surgiram diversas igrejas anglicanas que, desde o início, não participaram da Comunhão Anglicana. Estas surgiram como resposta ao movimento romanizante e ritualista. As mais conhecidas são a Igreja Episcopal Reformada dos USA (1873), a Igreja Livre de Inglaterra (1844) e a Igreja de Inglaterra na África do Sul (1938). Contudo, também, existem a Igreja de Inglaterra em Equador (hoje, chamada de Igreja Católica Anglicana de Equador, 1821) e a Missão Cristã da Índia (1897).

Encontramos outras igrejas que não se poderiam ser consideradas Anglicanas, per se, e que terminariam sendo parte da Comunhão Anglicana em 1980. Dois claros exemplos são a Igreja Lusitana (Portugal) e a Igreja Espanhola Reformada Episcopal. Estas duas igrejas foram formadas na segunda parte do século 19.

Não podemos esquecer o que aconteceu na Índia quando se formou a Igreja do Sul da Índia. Esta igreja foi formada pela união das igrejas anglicanas, batistas, luteranas, presbiterianas e independentes. Esta igreja não forma parte da Comunhão Anglicana, mas está em plena comunhão com Canterbury. Contudo, isto causou que se formasse a Igreja Anglicana da Índia (1964) que tem na atualidade 400,000 membros.

A finais da década de 1970, surge o movimento anglicano continuante de clara tendência anglo-católica. Este movimento surge como resposta à ordenação feminina, à teologia liberal e às mudanças litúrgicas e de práticas da Igreja Episcopal dos USA. Infelizmente, este movimento não manteve a unidade e tem causado o surgimento de milhares de mini-igrejas ao redor do mundo. As igrejas principais nos USA são ACA, APA, UECNA, ACC, EMC e APGS.

Finalmente, temos igrejas, como ACNA e Diocese de Recife, que já foram parte da Comunhão Anglicana, mas não se podem ser consideradas ‘per se’ membros da mesma, devido a que não participam da Conferência de Lamberth.

Isto mostra que ser anglicano deve ser outra coisa além de ser parte da Comunhão Anglicana. Sobretudo, se lemos na Enciclopédia Cristã Mundial que existem 110 milhões de anglicanos aproximadamente, e somente 85 milhões são parte da Comunhão Anglicana.

Ao mesmo tempo, temos que entender que o termo “Anglicano” tem mudado de significado através dos séculos.

Na Idade Média, encontramos em contadas ocasiões este termo em latim para referir-se à Igreja Inglesa, como os católicos-romanos falam de igreja brasileira para referir-se à Igreja Católica Romana no Brasil.

Na Reforma Inglesa, encontramos o uso deste termo para referir-se à Igreja de Inglaterra, como igreja nacional.

Mais adiante, se usa para referir-se não somente à Igreja de Inglaterra, mas também às igrejas que tem as mesmas práticas, doutrinas e costumes que a Igreja de Inglaterra, como é o caso da Igreja Episcopal de Escócia e, depois, a Igreja Episcopal Protestante dos USA.

A finais do século 19, se usa para referir-se àquelas igrejas que formam parte da Comunhão Anglicana que estava recém formada.

Na atualidade, o termo “anglicano” significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Se é certo que aquelas igrejas da Comunhão Anglicana são claramente anglicanas, também é certo que existe Anglicanismo além da Comunhão Anglicana.

Portanto, amanhã, estarei escrevendo sobre que significa ser Anglicano além da Comunhão Anglicana.

Por certo, nem todos os que se dizem anglicanos são anglicanos, mas disso falo em outro momento.

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