Porque quero ser “Deixado para trás”


Possivelmente, uma das doutrinas mais comuns hoje entre os muitos crentes, é aquela que foi popularizada na serie de livros, “Deixados para trás.” Em inglês, seria “Left behind.” O livro foi transformado em filme, que ainda teve maior repercussão entre os crentes brasileiros.

Sendo um país onde os pentecostais tem tanta força numérica, então não é de surpreender que esta posição teológica seja tão preeminente no contexto brasileiro.

Existem dois textos essenciais para defender esta posição. Um deles é Mateus 24.36–41, a partir do qual se desenvolve a doutrina de arrebatamento. Arrebatamento é a ideia de que os crentes serão secretamente tomados para estar com Jesus em algum momento anterior a sua volta.

O segundo texto se encontra em 1 Tessalonicenses 4.13-18.

Quando lemos cuidadosamente estes textos, sem uma predisposição, podemos perceber que estes textos não ensinam esta doutrina contemporânea, surgida a partir dos ensinos de um padre católico romano a principio do século 19.

O texto forma parte de um ensino de Jesus sobre “o fim.” Porém, este texto se encontra no meio desta palestra de Jesus. E, como sucede em cada uma das cinco seções do ensino de Mateus, termina com a frase, “Depois de que terminou dizendo estas coisas...” (pode comparar Mateus 26.1, com Mateus 7.28, Mateus 11.1, Mateus 13.53 e Mateus 19.1).

Na primeira parte deste texto, Jesus está respondendo a primeira pergunta dos seus discípulos em Mateus 24.3 (Dize-nos, quando serão essas coisas....?) e explica os eventos que aconteceram ao redor da destruição do templo: “não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam” (Mateus 24.34).

Neste momento, Jesus começa a responder a segunda pergunta dos seus discípulos sobre “...e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?” (Mateus 24.3). Portanto, agora a questão trata sobre a sua segunda volta.

Podemos encontrar uma estrutura muito clara nesta seção do ensino de Jesus. E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. (Mateus 24.37-41)

Podemos ver como compara, indica o tempo, mostra as diversas atividades, enfatiza o juízo repentino e a separação.
Uma questão que deveríamos perguntar, pela sua obviedade, é: Como foi no tempo de Noé? Quem ficou e quem foi deixado para trás?

Se lemos a historia de Noé percebemos que os perversos foram levados e os salvos foram deixados para trás. Afinal de contas, Jesus fala com toda claridade, “E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem.” (Mateus 24.37)

Portanto, eu prefiro ficar para trás. Eu acho que a opção é muito mais interessante e atraente diante da perspectiva que outros desejam apresentar.

Isto me lembra outro texto das Escrituras que fala que não sejamos levados por novos ventos de doutrinas. E, depois de quase 2000 anos, os cristãos ainda temos a tentação de seguir qualquer nova doutrina, ainda sendo a coisa mais estranha que possamos acreditar.

É tempo de que a Igreja se levante e seja aquilo que foi chamada a ser: a luz do mundo e a sal da terra.

Nosso mandato é ensinar as nações a obedecer tudo o que Jesus ensinou. E, assim, que seja “que o Reino de Deus venha em meio de nós.”


Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia. (Apocalipsis 21.1)
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